terça-feira, 26 de março de 2019

A História de Conceição da Barra em dois Atos: Fundação e Emancipação!


 1)    FUNDAÇÃO





A história das cidades transcorre sobre um território, nos interstícios entre tempo e espaço. É nessa curta fenda que o historiador encontra a vida histórica, a criação humana, a cultura, economia, política e as lutas pelo poder, a religião, mais as suas representações.
É nos interstícios que as tramas se dão, que os personagens tomam decisões, fazem escolhas e promovem a vida social. Choram e sentem o que já foi e o que estar por vir!
A geografia determina a história e os costumes de um povo. Assim é com a história que determina o tipo de relacionamento que cada povo e grupo social terá com o território e a geografia. Um complexo relacionamento entre espaço e tempo. Nenhum povo pode fugir ou negar a dialética de seu destino!
Conceição da Barra nasceu no encontro, de águas, de poesia e literatura e de uma grande batalha[2]. O seu destino foi traçado pelas águas, já os seus problemas sociais e políticos originaram-se da má distribuição da terra e da concentração do poder em mãos de uma minoria de grandes proprietários.
Conceição da Barra localiza-se exatamente a uma latitude sul de 18° 35 ' 191 e a uma longitude oeste de Greenwitch de 39°43'521. A sua área de abrangência é de 1.039,60 KM². Isso equivale a 2,25% de todo o território capixaba.
Dista de Vitória, a capital do Espírito Santo, em 256 KM. Ao sul está o município de São Mateus e seu épico e esplendoroso rio Kiri Kerê; ao norte, o Estado da Bahia; a leste, o oceano Atlântico; os municípios de Pinheiros e Pedro Canário estão ao seu oeste.
É o mais oriental de todos os municípios capixabas. É quase um seu carimbo de identidade territorial. Uma Barra que é quase uma ilha e, portanto, contém todos os mistérios de uma vida social e cultural ilhada!
Com uma população de 31.574 mil habitantes, Conceição da Barra apresenta uma densidade demográfica de aproximadamente 24 hab/km², de forma que residem 8.175 pessoas na zona rural e 21.319 na zona urbana. Detalhando mais os dados, para cada grupo de 100 mulheres existem 100,86 homens, estimativa que revela a existência de uma parcela um pouco maior de pessoas do sexo masculino.
Vejam o que acontece quando adaptamos esses dados a força de trabalho masculina: estatísticas demográficas são cruzadas com as informações relativas as expectativas de vida das mulheres, aí temos uma acentuada elevação do percentual de mulheres e uma diminuição do de homens, pelo fato de que elas vivem mais do que eles.
Entretanto, nas regiões em que se verifica fluxos migratórios seletivos com relação ao sexo masculino, de acordo com uma atividade econômica com as peculiaridades do masculino, a variável costuma apresentar índices em que os homens se destacam como maioria.
Para os estudiosos da geografia, tal circunstância se coaduna com a realidade demográfica e econômica da cidade de Conceição da Barra. Nela, é a agropecuária o setor que mais absorve mão-de-obra formal, sobretudo do sexo masculino, como passamos a analisar.  
A População Potencialmente Ativa (daqui em diante: PPA) contém 18.091 pessoas, o equiValente a 61,7% do total de habitantes. Em contraposição aos ativos, temos os inativos e/ou dependentes econômicos: esse grupo representa 64,7% da população nas faixas etárias compreendida de 0 a 14 anos e maiores de 65 anos de idade, um total de 39,3% dos residentes.
 O território agrário de Conceição da Barra, de maneira semelhante ao que se constata em quase todas as terras capixabas, é caracterizado pela predominância de latifúndios empresariais vinculados à monocultura. Aqui predominou o da cana-de-açúcar e hoje o do eucalipto.
Conceição da Barra possui um território de 79.057 hectares, com a seguinte configuração de distribuição fundiária:42,6% estão ocupadas por matas e florestas artificiais, quadro em que se inseri a cultura do eucalipto voltada para a produção de celulose.
Uma parcela de 15,9% é coberta pelas lavouras temporárias, área em que sobressai a lavoura canavieira que pertenciam às empresas DISA - Destilaria Itaúnas S/A, e ALCON – Cia. de Álcool Conceição da Barra[3].
Uma outra, de18,3% correspondem às matas e florestas naturais, numa zona em que, segundo o IPEMA (2005), estão situadas as quatro Unidades de Conservação Ambientais – Reserva Biológica do Córrego Grande, Floresta Nacional do Rio Preto, Parque Estadual de Itaúnas e a Área de Proteção Ambiental de Conceição da Barra.   
Pelo demonstrativo do IBGE, a concentração fundiária no município torna-se chocante nos indicativos dos estabelecimentos agrícolas que ocupam as terras[4].
Organizando os dados apresentados até aqui, a imagem da concentração de terras e poder torna-se evidente, vejam: de um total de 529 estabelecimentos, 498 se enquadra na classe das pequenas propriedades, 27 nas médias, e apenas quatro como grandes.
A situação da terra em Conceição da Barra é dramática: enquanto 498 pequenas propriedades somam juntas 10.318 hectares, por outro lado, quatro grandes propriedades possuem 56.421 hectares.
Os pequenos produtores somam 94,1% do total de estabelecimentos e detêm 13,1% das terras agrícolas. O agronegócio corresponde a 0,8% do total de estabelecimentos, porem concentram 71,4% do espaço agrícola.[5]  
Quanto as análises dos fatores econômicos de Conceição da Barra, a partir dos níveis de ocupação formal, há um baixo índice de trabalhadores que prestam serviços dentro da formalidade na legislação trabalhista.
A prova é que o saldo da mão-de-obra formal, no conjunto de todas as atividades econômicas do município, foi de tão-somente 5.049 trabalhadores.
Temos um baixíssimo índice de ocupação que sobressai quando se compara o saldo de empregados formais com a População Potencialmente Ativa (PPA), que, segundo o censo de 2013, corresponde a 16.091 pessoas. Desse modo, menos de 1/3 da PPA está empregada no município. 
A agropecuária é o setor que mais absorve essa mão-de-obra, uma vez que do saldo de 5.049 empregados, 2.063 pessoas desempenharam atividades vinculadas à agropecuária e 1.190 à indústria de transformação.
A agropecuária concentrou cerca de 41% dos empregos formais do município. Nota-se também que a mão-de-obra contratada nesse setor é tipicamente masculina, público que corresponde a 89% do saldo de empregados.
O setor pesqueiro, que no passado já protagonizou o esplendor da cidade, hoje morre à mingua, preso a velha atividade do extrativismo, sem recursos e diante da escassez do pesado, não tem forças suficientes para exercer uma função alternativa econômica ao desemprego e empobrecimento de seus pescadores. Um quadro que agrava os problemas sociais como alcoolismo, drogas e violência[6]. 
A administração pública municipal (leia-se, executivo municipal) emprega hoje cerca de 1.785 servidores, entre contratados e efetivos.
Já a Câmara municipal emprega cerca de 41 servidores, entre efetivos e comissionados. Existe, ainda, o Previcob, o Instituto de Previdência dos servidores.
O Previcob é uma autarquia de personalidade jurídica de direito público, com patrimônio e receitas próprias. Foi criado mediante lei complementar 001/02 de iniciativa do prefeito municipal Francisco Donato Junior, no ano de 2002. A Entidade emprega pouco, cerca de 10 servidores ao todo, entre efetivos e contratados. Mas, já há um processo de reestruturação administrativa e previsão para um concurso público.
Conceição da Barra não possui cobertura de saneamento básico:  Um dos principais indicadores sociais e de eficiência da gestão da prestação do serviço de esgotamento sanitário é o índice de atendimento com o serviço de esgotamento sanitário.
Observadas as considerações sobre este indicador, relativas ao abastecimento de água, os dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) apontam para um percentual de atendimento do município de apenas 1,80% em 2014[7].
Um outro elemento importante na configuração da organização da cidade é o número de entidades civis voltadas para a terra ou outras atividades econômicas, com atuações atualmente positivas de proteção e desenvolvimento sociais, são elas: Sindicato rural de Conceição da Barra, Colônia de Pescadores Zl em Conceição da Barra, ARTBARRA, movimentos sociais dos ex-escravos, os Quilombolas.




Toda origem carrega problemas de ordem histórica. As marcas de fundação de uma cidade devem se acoplar a toda a sua tradição e mesmo ao desejo de memória de seus habitantes, dos intelectuais e artistas.
Nos estudos do historiador britânico, Eric Hobsbawn, as tradições, via de regra, são invenções de um povo, de uma cultura, de uma elite, com fins e propósitos determinados. Pode servir para um monte de propósitos. Inclusive, se adequar a uma forma de poder[8].
De que forma Conceição da Barra nasceu? Ou melhor, de que forma a historiografia e a memória faz recordar a fundação da cidade?
Que fatores explicam a formação do poder e a distribuição desigual da terra e dos recursos naturais? E o modo de ser do barrense, as peculiaridades de sua formação histórica, enfim, a sua formação cultural?[9]
Nesse livro, por não ser o seu foco, não responderemos a essas questões, faremos apontamentos de pesquisas e indicaremos fontes nos quais o trabalho deve prosseguir.
Como salientamos no início desse capitulo, a história de Conceição da Barra é indissociável de seu porto e de sua privilegiada localização geográfica: entre o encontro do Kiri Kerê e o oceano atlântico.
Na verdade, seu charme e toda a sua sedução advém do fato dela ser a mais oriental cidade do Espírito Santo. Uma Barra, um porto e o belíssimo encontro entre mar e rio.
A formação de uma Barra entre um grande rio e um oceano era naturalmente adequada a parada de navios e embarcações, tudo de que precisavam os colonizadores portugueses para administrar as demandas internas das capitanias.
Sobretudo a vulnerabilidade face as investidas dos selvícolas e as imensas possibilidades de ataques por mar aberto, empreendidas por corsários de outras nações, também interessadas nas potencialidades das terras brasilis, recentemente descobertas e ainda muito hostis aos portugueses.
Que outro termo deveríamos substituir por descobrimento? Disputa por território. Ou seja, o desembarque dos europeus tinha por meta a conquista de territórios, o domínio de matérias primas. 
A ideia de que a expansão marítima dos séculos XV e XVI obedecia a uma missão colonizadora cristã esbarra na constatação das próprias dificuldades dos jesuítas em catequisar os índios.
A colonização se revelará sem idealismo quando os portugueses, não vendo mais nenhuma utilidade no trabalho dos missionários, decidem por expulsa-los, alegando que a sua presença no território aumenta o custo para a consecução das metas econômicas propostas[10].
Voltando a Barra, os portugueses identificavam naquela posição geográfica um poderoso anel que vinculava os interesses econômicos aos militares, uma vez que aquilo que a história oficial chama de descobrimento, na verdade foi uma guerra de conquista que opôs português e gentis.
Entre São Salvador e Vila Velha, se interpunham as capitanias de Porto Seguro e a Barra. Na Barra, o vale do Kiri-Kerê, era domínio dos índios nativos. Um espaço territorial repleto de símbolos de identidade. Assim como no vale do grande rio Doce.
Todos os dois rios ofereciam um link entre interior e litoral próximos a região do descobrimento. No caso do rio Doce, ele foi usado como meio de interiorização da colonização, um magnífico corredor de acesso as minas de ouro e pedras preciosas, tão desejadas nos primórdios, mas só alcançadas já em fase bem adiantada da colonização, por volta do final do século XVII. 
Os Botocudos foram o grupo indígena mais renitente a presença dos colonos europeus, pelo menos era o grupo que possuía melhores e mais bem documentados relatos de conflitos e sabotagens a fixação dos colonos no território da capitania do ES, em torno de Vitória e Vila Velha. Para a região norte, veremos que foram outras as comunidades indígenas que fizeram frente aos colonizadores.
A colonização era uma empresa, orientada por objetivos econômicos e protegida por ações militares. Ao evidenciar essas características da colonização, pretendemos fazer coro com a recente historiografia que afasta os motivos idealistas da nossa história para estabelecer as raízes de nascimento do Brasil em interesses econômicos e na violência contra populações nativas.
O início da nossa colonização se processou pelo litoral. Na faixa que cobre a Bahia e o norte do Espírito Santo está o nosso objeto de estudo.
 Nos dizeres de um renomado historiador nacional, só com a agricultura os portugueses iriam apenas arranhar o litoral como caranguejos[11].
Nas primeiras décadas, de fato os colonos apenas arranhavam o território porque as comunidades indígenas litorâneas se tornaram um estorvo para o projeto de colonização[12].
É por isso que, do ponto de vista estritamente historiográfico, a fundação da cidade e a batalha estão imbrincadas. Um exemplar apenas de todo o processo de colonização empreendido na época pelos europeus.
A impossibilidade da separação prova-se no rígido controle do processo de colonização. Nada poderia ficar de fora.
Colonizar e organizar guerras, montar fortes, estabelecer estratégias de resistência, expandir o poder, escravizar, controlar a produção e garantir a segurança de seu transporte até o destino, manter as remessas de dividendos para a metrópole, tudo isso é o circuito da colonização.
Na falta de fontes confiáveis e no excesso de uma memória melancólica, inebriada pela atmosfera mágica envolvente da Barra-ilha, a fundação restou interpretada como de contatos amigáveis entre europeus e nativos.
São relatos épicos, de grandiosidade e de sentimentos de pacificação. O quinhentismo e o jesuitismo são as suas fontes. Uma perspectiva exótica e de exaltação de grandes feitos.
O oponente ao europeu, o nativo, entrava apenas como coadjuvante, merecia salvas quando cooperava e era defenestrado quando resistia a aceitar a empresa da colonização.  No Espírito Santo, o norte se tornou a terra do símbolo da resistência muito mais do que o sul.
Por isso, a memória do nativo nortista capixaba foi representada ou na forma de imagens estéticas antropofágicas ou de pacificação, tudo supostamente como resultado de algum atributo genético de docilidade e cordialidade.
É verdade que a docilidade bem como a cordialidade colaram mal ao estoque etnográfico das populações nativas pré-cabralianas, pois à medida em que a relação com a terra estava preservada no núcleo fixado da chegada do europeu, era-lhe difícil quebrar o vínculo, alterar o sentimento ou distorcer a demanda local por produtos ou quinquilharias de acessórios culturais do invasor.
 Via de regra, as taxonomias estranhas eram usadas quando os historiadores do XIX se referiam aos nativos do norte.
Nos arquivos públicos do Espírito Santo, Rio de Janeiro e Bahia, encontra-se uma massa documental ainda pouco explorada, mas que indica conter segredos reveladores dos verdadeiros vetores de fundação da cidade de Conceição da Barra[13].
Tais arquivos tem recebido a visita e a exploração de muitos historiadores capixabas.
Aqui no norte do Espírito Santo, o historiador Eliezer Nardoto, deve ser considerado um pioneiro desbravador na busca de informações que possam melhorar a nossa compreensão do início da empresa colonizadora no estado.[14]
Nardoto, obviamente, não é um historiador idealista que se deixa levar pelo quinhentismo ou se associa a uma ideia de superioridade racial do europeu. Longe dele essas características.
Porem, Nardoto tenta a todo custo liberar espaço na narrativa de ocupação do norte do Espírito Santo para outras nacionalidades europeias, notadamente a força dos italianos, quando no século XIX, começa a aumentar o fluxo de sua imigração.
Índios e negros não são tratados, em suas pesquisas, como protagonistas da empresa da colonização no norte. Nardoto não faz parte daquele esforço de trazer para o primeiro plano, índios e negros, que ainda no XIX contou com a poderosa e distinta participação do historiador liberal Afonso Cláudio.
A ocupação como usurpação. Nada disso encontra-se em Nardoto. Na sua narrativa, índios e negros ocupam espaços pré-definidos dos já derrotados da história e que, portanto, apenas ilustram, suas memórias e modos de organização social e políticos, as razões pelas quais foram derrotados e submetidos aos imperativos de poder do homem branco europeu[15].
Narrativas factuais, relatos oficiais, visões etnocêntricas, tudo isso se combina para formar uma armadura de representação da história de fundação das cidades capixabas como marcos de poder e hegemonia de elites europeias.
Especificamente na história de fundação da cidade de Conceição da Barra, essa combinação produziu uma das visões mais fantasiosas da historiografia e que ilustra perfeitamente bem o conceito de invenção de tradições do historiador inglês, já mencionado nesse estudo.
Passamos a analisar, então, essa perspectiva.
A narrativa de fundação dataria de 1537. Chama a atenção a profunda semelhança com uma outra, mais conhecida, sobre o descobrimento do Brasil: Desvio de rotas, tempestades e intuições dos navegadores, formam um laço que une passado e presente de povos muito distintos.
O invasor europeu pretende se sentir à vontade, não apenas no novo território sobre o seu domínio, mas também sobre uma nova memória de conjugação de valores e interesses, de culturais e destinos.
Nada mais espetacular do que a junção de experiencias culturais tão dispares num evento natural estonteante: Uma tempestade terrível a sacudir os mares como se a própria providencia houvesse descido à terra para supervisionar pessoalmente esse encontro épico de povos.
A tempestade teria afundado um navio espanhol nas proximidades do grande rio, chamado pelos nativos de Kiri-kerê.
A providência, com a sua presença, abençoaria a heroica ação dos europeus e fustigaria a mitológica entrada em cena dos nativos. Assim, estávamos face a uma missão colonizadora transcendental.
Nesse relato épico, o caudaloso rio teria obtido o seu nome dos índios Guaianás, que habitariam a faixa de terras do litoral norte capixaba[16].
Como se vê, a versão é surpreendentemente fantasiosa, se alimenta de uma crença particular da harmonia entre índios e colonizadores.
Não eram os Guaianases a etnia que enfrentou os portugueses, tampouco os Aimorés, mas os Goytacazes[17].
As terras do atual Espirito Santo eram habitadas por diversos povos indígenas, todos pertencentes ao tronco Tupi.
Os Aimorés e os Goitacás. Na região norte do Espírito Santo havia várias tribos que ocupavam as regiões do Vale dos rios Cricaré e rio Doce, entre eles Tupinambás, Pataxós, Maxacalis e Botocudos que emigraram de Minas Gerais e ocuparam toda essa região. Estes últimos foram os mais massacrados devido a sua não aceitação de contato com o homem branco[18].
A pesquisa histórica mais recente não confirma a versão de uma harmonia que teria resultado a fundação da cidade. É pouco provável que índios e colonos tivessem laços amistosos.
Se houvesse tal harmonia, décadas depois não poderia ter havido uma guerra tão sangrenta como foi a da Batalha do Kiri Kerê. Como veremos ao longo desse texto, a guerra e os conflitos entre eles é que era a regra.
Por isso que essa outra versão é bem mais factível e amplamente aceita pela nova historiografia capixaba, a data de fundação da cidade é dentro da década de 1550, quando Mem de Sá (nomeado terceiro governador-geral do Brasil, de 1558 a 1572, sucedendo a D. Duarte da Costa (1553-1558)), respondendo a uma solicitação desesperadora do Donatário da Capitania do Espírito Santo, Vasco Fernandes Coutinho, organizou expedições para combater os índios das circunvizinhanças de Vila Velha, local onde se estabelecera o centro administrativo, religioso e militar da capitania.
Foram décadas de investidas indígenas contra os colonos e em defesa de suas terras[19]. O núcleo operacional dos selvícolas estaria localizado exatamente no entorno da Barra, na região alagada de Mariricu, margem do Kiri-Kerê, norte da capitania.
Saindo de São Salvador, a então capital da Colônia, passando pela capitania de Porto Seguro chegando até Vitoria e Vila Velha, encontrava-se no meio desse trajeto a Barra. Os índios formavam ali verdadeiras fortalezas de caráter militar para promoverem as suas sagradas terras.
Na verdade, conforme relatos e informações recebidas por Fernão de Sá quando de sua estadia em Porto Seguro, os índios teriam a sua fortaleza ao longo do grande rio até a ponta da Barra, de onde partiam os ataques aos colonos de Vila Velha e de outros locais da capitania.
Fernão de Sá imaginou que poderia surpreende-los, agindo rapidamente a partir da boca da Barra.
Nessa pista narrativa, constatamos que a Cidade de Conceição da Barra só poderia ter nascido, na história do Brasil, na forma dos primeiros núcleos de defesa militar, isto é, um forte, com estrutura de funcionamento voltada a dar suporte de segurança ao controle português da faixa litorânea da capitania do Espírito Santo e por conseguinte a capital do Brasil que localizava-se a poucos quilômetros de distância, na cidade de São Salvador. Que, por seu turno possuía um forte para proteger a sua baia.
Pelo menos é o que vemos ao longo de todo o litoral da costa brasileira quando da chegada dos portugueses, fortalezas militares e núcleos de povoamento voltados a dar suporte e operacionalidade a ocupação[20]!
Cidades coloniais são basicamente fortalezas de poder econômico e militar. É por essa razão histórica que a batalha do Kiri-Kerê e a fundação da cidade se confundem. Formam um laço indissociável a iluminar as pesquisas e a responder aos questionamentos sobre os interesses que levaram os colonos a se estabelecer na ponta oriental da capitania nos primórdios da colonização brasileira.
No belíssimo poema épico do padre da Companhia de Jesus, José de Anchieta, encontramos o registro ontológico da batalha.
Devemos considerar esse belíssimo poema como o documento de certidão que prova o modo como ocorreu o nascimento da cidade de Conceição da Barra. O vínculo entre guerra de ocupação e fundação do núcleo urbano.
Em 1550, a população total da capitania era diminuta, entre colonos europeus e índios. Logo, não podemos rigorosamente falar numa povoação e urbanização da Barra nesse período[21]. 
Eis o título do poema: De Geste Mendi de Saa. Um documento transcrito em latim, sob as habilidades literárias de um expert em emoção e sentimentos nacionais. Um expoente magnifico dos propósitos da colonização, sem, contudo, ferir a autoridade política do estado absolutista.
Anchieta será um dos intelectuais da igreja a agir dentro da empresa missionária e colonizadora com capacidade e habilidades para não criar paralelismo de poder entre igreja e estado.
Talvez ele tenha sido, desde o começo, o principal vetor a costurar os propósitos colonizadores com a crença na superioridade da religião cristã. Tal costura justificaria, a posteriori, a engrenagem da matança e da espoliação com os ideais de Jesus Cristo.
Nunca na história, nem na época dos imperadores romanos que alegavam a expansão da PAX como standard de domínio de outros povos, um violento processo de colonização alcançou tamanho grau de dissimulação em suas representações memorialísticas!  
Obviamente, como todos nós sabemos, após a morte de Anchieta, cada vez mais a mão de ferro do absolutismo restringirá a liberdade de ação dos missionários, levando a sua expulsão em 1759 por ordens do 1° ministro, o famigerado Marques de Pombal.
Retornando ao poema de Anchieta. A narrativa é ficcional, seu estilo é épico-laudatório, de glorificação e exaltação dos feitos do Governador Geral do Brasil, Mem de Sá.
O padre reservará exatos 605 versos do livro I para narrar a morte de Fernão de Sá, dotando-a de caráter de sagração. Num ato heroico e de bravura, Fernão de Sá entrega o próprio corpo e espírito para a honra de seu povo.
Eis a invenção na história: A morte como oferta de sagração para a fundação de uma bela cidade, tendo como intermediário o governador geral do Brasil e pai do herói nacional.  
O poema épico começa com uma epístola dedicatória. Seu título: “Jesus. A MEM DE SÁ GOVERNADOR”. De Geste Mendi de Saa!
A abertura do épico:
Eis que vês, potentado supremo, quão grande façanha
realizou a fôrça do onipotente Deus.
O indômito Brasil já seus anchos orgulhosos
Depôs, e tombou, rendido às tuas armas[22].

Provavelmente, o poema foi escrito entre os anos de 1560 e 1562. Publicado em Portugal na data de 1563. 
Mas, observem bem que os registros da suposta vinda do padre ao norte capixaba, além das datas não baterem, não possuem veracidade cientifica em termos de comprovação de fontes.
Mais adiante voltaremos a essa polemica sobre se José de Anchieta esteve ou não nas margens do rio São Mateus e, portanto, teria abençoado as terras de Conceição da Barra como tem sido afirmado ao longo dos últimos séculos.
Além desse poema, contamos com mais dois poderosos registros sobre a Batalha.
A carta do Irmão Antônio Blasquez, também membro da Companhia de Jesus, que direto do Colégio de Salvador escreveu ao padre geral uma missiva (30/04/1558), e dentro de outros assuntos, reservou 29 linhas para a Batalha.
Uma outra fonte, de natureza não-primária, e que distava dos acontecimentos em 60 anos ou mais, é o livro de Frei Vicente do Salvador, História do Brasil[23]. Numa única página, Frei Vicente revela toda a história da sangrenta batalha.
Se para José de Anchieta, o filho de Mem de Sa foi abandonado pelos soldados del rei a própria sorte, nesse livro, essa versão é contestada.
A retirada dos soldados foi devida a uma estratégia de urgência em função do avanço e do poderio dos índios que surpreendeu o planejamento português. Talvez Fernão de Sá tenha subestimado a força dos índios e o caráter inóspito do ambiente de mangue e restinga onde ocorreu a batalha.
Um outro fator que deve ser evidenciado e analisado entre as possíveis causas da morte do filho do governador foi que Fernão de Sá mudou os seus planos no trajeto entre São Salvador e Vitória.
Essa mudança inesperada e contrária ao planejamento inicial é que provavelmente o levou a morte.
Tanto a versão de José de Anchieta quanto a de Frei Vicente do Salvador utilizaram as fontes orais de pesquisa como embasamento para a comprobabilidade do evento.         
As fontes da história juntamente com as suas interpretações são as coisas mais complexas com as quais o historiador deve lidar. Complexas e delicadas pois, via de regra, alimentam ideologias e representações de poder e de dominação.
Vamos então tentar encontrar a origem da tradição lendária de que o Padre José de Anchieta esteve aqui no norte do ES e que teria sido o fundador da cidade de São Mateus e o responsável pela alteração do nome indígena de Kiri-Kerê do rio para o de São Mateus.[24].
Tudo não teria passado de um grande mal-entendido? Questiona o historiador capixaba Gabriel Bittencourt[25].
Na verdade, de uma interpretação errônea e distorcida do livro do padre jesuítico Antônio Cardim teria vindo o problema histórico.
De fato, no Narrativa Epistolar Duma Viagem e Missão Jesuítica (1585), Cardim refere a vinda de José de Anchieta a uma Vila de São Mateus. Essa Vila não ficava na capitania do Espírito Santo, mas na de Porto Seguro.

Misael Ferreira Pena, um mineiro radicado no município de Cachoeiro do Itapemirim, ao sul da Província, que escreveu o seu Província do Espírito Santo (1878), diz textualmente que o padre Anchieta esteve em São Mateus exatamente no dia em que a igreja celebra os martírios de São Mateus. Daí o nome da cidade e do Rio, São Mateus.
Também Basílio Carvalho Daemon, autor do livro Provincia do Espírito Santo (1879), o famoso cronista dos feitos históricos extraordinários das principais figuras capixabas, escreveu que o Padre teria chegado ao Vale do Kiri-Kerê em 21 de setembro de 1596.
Já em pleno século XX, Mario Aristide Freire que escreveu o livro: A capitania do Espirito Santo (1945), era da mesma opinião e atribui ao Padre José de Anchieta a fundação de São Mateus.
Francisco Eugenio de Assis, Sintese da História da Cidade de São Mateus (1946), foi na mesma linha de abordagem.
Tudo é resultado de erro de interpretação? Ou temos algo mais que possibilite uma reflexão em torno dos processos de criação de lendas e mitos no interior da história da própria historiografia?
De modo que podemos inferir que temos uma tradição historiográfica capixaba, de meados do século XIX até o século XX, republicanista, voltada para construir a memória sacralizada e ritualizada dos feitos e realizações de origem baseados na visão épica de fundação das cidades do Espírito Santo.
A historiografia, pos-fatum, tenta entrelaçar em harmonia, a missão jesuítica e os interesses coloniais do estado absolutista português. Tarefa difícil pois não há como mensurar as divergências das missões bem como as convergências. A expulsão, mais tarde, certamente agravou algo que já estava em semente e germinação históricas.
A presença de Anchieta apaziguaria os ânimos entre selvícolas e europeus, porém, no que diz respeito especificamente a Batalha e a fundação, nada há que se possa confirmar.
Mas, não só. Talvez a era de Anchieta deve ser vista como o momento mais feliz do casamento entre igreja e estado absolutista. Índios e europeus vivendo em harmonia e estado e igreja com matrimonio perfeito.
Após a morte do padre, essa harmonia não voltará a acontecer na breve estadia dos jesuítas no ES (1551/1759).
Por hora podemos iniciar dizendo que não há elementos de provas e registros documentais que possam confirmar a versão heroica dos fatos no poema.
Assim, o poema, ainda que a sua autoria não seja contestada, não foi escrito por um observador em contato direto com os fatos e muito menos por alguém que iria valorizar as razões dos índios na guerra.
Vê-se que o campo historiográfico, ele próprio, desenvolveu a sua batalha particular em torno de interpretações, representações e busca de fatos.
Tratava-se, do ponto de vista de uma análise de sua estrutura semântica, de uma visão pessoal do religioso, uma versão que enaltecia os feitos do colonizador, uma perspectiva de forte colorido ficcional, com tonalidades ideológicas de uma narrativa ao sabor da história oficial.
Para nós historiadores, a tese da passagem do padre José de Anchieta por São Mateus, e a tradição de que ele teria, no dia 21 de setembro de 1596 batizado o rio Kiri Kerê com o nome do santo do dia, isto é, São Mateus, é da historiadora capixaba Maria Stela de Novaes[26].
Controvérsias acadêmicas à parte, o fato é que a batalha aconteceu e o filho do governador, Fernão de Sá foi morto em combate.
Ainda que o conhecimento que temos hoje ainda não seja suficiente para podermos responder a todas as nossas duvidas e curiosidades sobre a época, a sua existência segue como que a exigir novas e sistemáticas investidas dos historiadores.
 Trabalhos arqueológicos sobre as comunidades indígenas, pesquisas em arquivos, nacionais e estrangeiros, precisam ainda ser empreendidos para termos um quadro completo dos acontecimentos.
Com o que temos em mãos, podemos afirmar que as esquadras de Fernão de Sa tinham por destino a proteção da donataria de Vasco Fernandes Coutinho.
A sua entrada pelo rio, o cenário de guerra, os personagens dos gentílicos, tudo isso carece de maiores elementos para precisarmos exatamente as circunstâncias do evento, delimitarmos o poderio e a capacidade de cada lado no conflito, os objetivos e interesses.
Ainda assim, temos mais elementos de provas e testemunhos sobre os colonizadores do que sobre os índios.
Podemos apurar os relatos de saída das esquadras lá de Salvador, passando por Porto Seguro e chegando até a Barra. Temos como certo o número das esquadras e um número aproximado de homens que se envolveram na Batalha.
Os instrumentos de guerra e o destino da missão que, não era o Kiri Kerê, mas a proteção da capital da província, Vila Velha e Vitória, por conta de inúmeros pedidos de socorro do seu donatário Vasco Fernandes Coutinho.
Também não temos como precisar uma outra lenda, vinculada a da vinda de Anchieta ao norte da capitania, de que colonos da Grande Vitória teriam subido ao norte até chegar as margens do Kiri-Kerê em busca de proteção natural contra as investidas poderosas dos índios em suas propriedades. 
A situação da capitania era calamitosa. Com base nos movimentos de Vasco Fernandes Coutinho, viagens, sobretudo em função dos resultados de suas iniciativas administrativas, sua capacidade de organização do território e de proteção aos seus moradores, infere-se a crise pela qual passava a capitania.
Não temos consenso na historiografia capixaba sobre a situação econômica e a figura histórica de Vasco Fernandes Coutinho[27].
Mas, podemos deduzir o tremendo poderio dos gentis da época, sua força e sua capacidade de deslocamento e as estratégias de guerra e de sabotagem nas atividades econômicas dos colonos: destruição de propriedades, aprisionamento e assassinatos de portugueses, interrupção de comunicações, e.t.c.
Todavia, apesar das características altamente positivas de poderio bélico, os índios obviamente não possuíam arsenal de guerra capaz de um enfrentamento prolongado e em vários campos de batalha contra os europeus. A morte de Fernão de Sá, ainda que trágica e impactante, foi uma derrota momentânea dos portugueses.
A colonização, seus interesses econômicos e militares rapidamente motivarão novas e dramáticas investidas dos portugueses contra os índios. Além disso, devemos considerar os sentimentos paternos do governador que ao ver o filho morto aumentou e nutriu o seu ódio contra os gentílicos e até chegou a culpar Vasco Fernandes Coutinho pela tragédia.
O donatário não gozava de boa reputação em face de Mém de Sá que considerava a gestão da Capitania deplorável. 
A vingança é também um motor impulsionador da história e podemos creditar a esse sentimento de vingança uma das causas de fundação da cidade[28].
Vingança, por parte dos colonizadores, mas melancolia, por parte dos gentílicos. Dois fatores de ordem subjetiva e que funcionaram como impulsionadores do processo histórico, devendo ser levados em conta quando abordamos esse enigmático início da colonização das terras capixabas, sobretudo a região norte.
A melancolia é hoje elemento presente na trajetória cultural e dos costumes entre a população da cidade de Conceição da Barra, mesmo após séculos dos acontecimentos.[29]
A melancolia resulta diretamente do extermínio e da expropriação de suas terras, que foi na verdade o saldo do conflito para os nativos. Porque, como mencionamos, após a derrota do filho, Mem de Sá literalmente esmagou e varreu os índios ribeirinhos do Kiri Kerê[30].
E mesmo mais tarde, com a chegada dos negros escravizados africanos, a melancolia já estava presente e funcionava como memória compensatória para a saída violenta da África, a chegada ao novo mundo e a perda da liberdade e do próprio local de fixação, quando, já no início do século XX, os remanescentes de escravos serão alvos da expropriação de suas terras.
Teria sido Balthazar o fundador desse núcleo urbano com fortaleza militar chamada de Barra?
Evidentemente que, ao acoplar a revanche dentro do amplo processo de colonização e ocupação, ela terá que resultar em algo concreto.
E resultou. Nasceu assim uma fortaleza militar que pavimentou a ocupação efetiva do valoroso território. Tal fortaleza era o fundamento para a criação da cidade.
Em 1567 o próprio Governador Geral, Mem de Sá, esteve no Espírito Santo para verificar com os seus próprios olhos o trabalho da pacificação.
Teria o Governador feito alguma estadia na ponta da Barra, supervisionando e dando ordens para o estabelecimento de um forte militar e de construção de um incipiente núcleo colonizador na forma de uma cidade?
Ainda não podemos responder a essa intrigante questão na medida em que não temos fontes que possam embasar tal formulação.
Já quanto a mudança do nome do rio, de Kiri Kerê para São Matheus, ainda que obviamente de fundo cristão, não temos provas documentais sobre quem e quando houve essa mudança.
O que segue em nossa narrativa histórica são deduções lógicas não amparadas em fontes efetivas de registros documentais.
O porto natural sobreviveu à batalha, assim como a geografia física sobreviveu ao sangue derramado. A cidade então pôde nascer. Os escombros da guerra e o pisoteio dos corpos serviram de aterro. O próprio registro da memória foi varrido junto.  
Com esse pequeno relato podemos afirmar, com um grau razoável de fidelidade cientifica, que os portugueses fundaram a cidade de Conceição da Barra numa data provável na década de 1550.
Um forte, com alguns casarios em torno, formou as primeiras estruturas urbanas que suportarão a história de Conceição da Barra.
Certamente, das ruinas uma outra cidade surgirá séculos depois. Uma nova arquitetura e um novo povoado. A bela igreja da matriz. O cais. O Trapiche. Os casarios...
 Cidades se sobrepõem a cidades, ruinas formam o poço para novos projetos de organização urbana e ocupação de territórios.
Quem sabe as escavações arqueológicas nos mostrarão, num futuro próximo, as diversas camadas de cidades que existiram aqui nessa Barra, cidades que talvez possam ter sido construídas pelos índios antes mesmo da chegada dos colonizadores europeus e desses próprios índios que aqui estavam quando da chegada deles e protagonizaram a Batalha. Apenas os trabalhos arqueológicos poderão aprofundar essa história!
Por hora nos contentemos com a projeção da existência de um núcleo operacional estratégico para a continuidade da colonização cuja principal função não era a atividade econômica, mas a proteção militar em face de possíveis investidas indígenas de outras regiões que eventualmente pudessem migrar para o cobiçado lugarejo.
Assim, teríamos a seguinte simetria histórico-geográfica da ocupação da capitania do Espírito Santo ao longo dos séculos XVI, XVII e XVIII, com fortaleza militar, núcleo de povoação, a beirar o oceano atlântico: Vila Velha, Nova Almeida, Aracruz, Barra de São Mateus e Porto Seguro. A posição militar-estratégica era ocupada pela Barra.
Na Barra, a exploração econômica venho como apêndice e não como fator determinante, como ocorreu em outras cidades do estado.
As principais fontes de registro histórico do início da colonização foram produzidas por duas referências de conhecimento: os padres jesuítas e o estado português mediante os seus agentes e colonizadores.
O formato desses registros históricos é bem conhecido dos historiadores capixabas, são eles: Cartas, pregações, decretos oficiais, relatórios, estatísticas econômicas, diários e biografia, e.t.c.
Intelectuais e artistas europeus, em viagens no Brasil, produziram também informações valiosas sobre esse período. Pinturas, relatos de viajantes, crônicas e tratados...
Cumpre destacar que os índios e mais tarde os escravos, pelo fato de não terem acesso as técnicas da escrita, produziram relatos e narrativas orais[31].
Dada a distância temporal do evento, a tradição oral só pode ser acessada via manifestações culturais e religiosas, preservadas pelas comunidades ribeirinhas. Daí a importância vital dos estudos linguísticos dessas comunidades.
Os tremendos esforços dos herdeiros dos derrotados que tiveram que se auto afirmar em face de uma cultura europeia dominante revelam-se nas exuberantes e magníficas representações culturais que foram preservadas ao longo dos séculos na cidade.
Uma arqueologia da fala e dos modos gestuais pode revelar o que a documentação escrita não pode: a sobrevivência do grito de resistência e de luta dos índios, bem como dos escravos e seus descendentes.
A esse respeito, a arqueologia tem feito imensos esforços para reconstruir o modo de vida e os costumes das diversas comunidades indígenas que habitavam o país, através de técnicas de decifração dos vestígios de uso de utensílios, dos materiais de construção das aldeias, roupas, comidas, materiais domésticos, os famosos sambaquis.
Já a Companhia de Jesus permaneceu no Brasil cerca de mais de 200 anos, entre 1549 e 1759, data de sua expulsão. Como os Jesuítas, por conta de seus imensos trabalhos de catequização, mantiveram com os índios uma relação de proximidade, a expulsão obviamente significou uma perda de um testemunho fundamental para os séculos seguintes.
Também por isso, entre o ano de 1759 até o final do século XVIII, pouco se sabe dos destinos dos indígenas e também da história de Conceição da Barra[32].
Uma vez que a cidade era um povoado de São Mateus e que esse último era vinculado a capitania de Porto Seguro, parte considerável da documentação existente do período encontra-se sob a guarda do arquivo público estadual da Bahia.
A partir de fins do século XVIII, com o interior da colônia devidamente controlado pela colonização é que veio a necessidade de escoamento da produção de café de Minas Gerais, via porto de São Matheus[33].
Antes, a extração de minerais, pedras preciosas, ouro e diamantes, motivaram a preocupação com a defesa das entradas do litoral para o interior.
Somente a partir de 1810, com o decreto de desvinculação da província da Bahia é que os governos do Espírito Santo começam efetivamente a lidar com o problema da ocupação do norte e noroeste do estado sob uma perspectiva dos interesses capixabas, de um programa de desenvolvimento próprio, integrado ao conjunto do território.
As demarcações limítrofes com Minas e a Bahia vão cobrir todo o século XIX e alcançará parte do XX.
Tanto o Vale do rio Doce quanto o litoral barrense assumirão progressivamente o protagonismo da questão econômica na forma da fixação dos limites e da jurisdição administrativa do governo capixaba.
Tudo isso terá consequências sobre a vida social e econômica da Barra de São Mateus.
Só então, a cidade entrará na rota dos interesses estaduais, que a dificílima questão de sua autonomia marcará a pauta política.
Nesse amplo movimento cultural e político, despertam também a preocupação com a promoção de uma memória local, a identidade do barrense, o lugar de negros e indígenas na formação dessa história.
Estilos literários de contos e romances, peças que buscavam um padrão estética para uma dramaturgia barrense, poetas e folcloristas. Uma cultura estava em gestação!
Nesse sentido, os principais eventos de configuração da memória e da identidade cultural, bem como as referências de fundação política de Conceição da Barra estão todos registrados dentro dos séculos XIX e XX.
Dentre eles, particularmente o intrigante problema da Emancipação político-administrativo, datado do ano de 1891, dentro do amplo conjunto dos ventos emancipatórios que a fundação da república brasileira e o federalismo trouxeram à superfície.
Na biblioteca do IBGE, pesquisamos a população e a estrutura agraria do Brasil desde 1870 até 1920. Esse período corresponde ao fim do regime de escravidão e o começo das relações capitalistas de trabalho.
Um período de transição fundamental para compreendermos o desenvolvimento futuro dessas relações na história da cidade.
O primeiro (1870) foi um censo promovido pelo Império em que podemos apurar a taxa da população escrava na cidade de Conceição da Barra ao final do século XIX.
Impressionante são os efeitos jurídicos e administrativos da Lei de 1871, a do Ventre Livre.  Num dispositivo importante contido na Lei, chamado de Fundo de Emancipação dos Escravos, há comandos obrigando as províncias a informar os levantamentos sobre números de escravos, propriedades, valor econômico da escravaria, e.t.c.
Essas informações recolhidas foram prestadas pelas autoridades capixabas ao governo do império. O presidente da Província mandava ofícios para as comarcas com o objetivo de regularizar e subscrever os censos locais. Essa é certamente a principal via de fonte documental para obtermos um conhecimento mais completo da relação oficial entre poder público, proprietários privados e escravaria, por exemplo.
O outro documento censitário já se encontra dentro da era republicana, mas surpreende porque registra a existência de negros ex-escravos proprietários de terras[34].
Os dados desses dois censos permitem fazer uma avaliação histórica da evolução da cidade em comparação com a cidade de São Mateus. 
O que vamos fazer a seguir é usar esses dados como pano de fundo para entendermos melhor as opções políticas das elites face as conexões com o desenvolvimento e as oportunidades mais amplas da economia do Estado do Espírito Santo em confronto com a sua vizinha, São Mateus.




O registro histórico de Emancipação política da cidade de Conceição da Barra até o ano de 2009, definindo a formação administrativa e os desdobramentos de seu território é o seguinte:
 Freguesia criada com a denominação de Conceição da Barra de São Mateus, por decreto de 11/08/1831, subordinado ao município de São Mateus.
 Elevado à categoria de vila com a denominação de Barra de São Mateus, pela resolução do conselho do governo de 02/04/1833, desmembrado de São Mateus. Sede na vila de Barra de São Mateus. Constituído do distrito sede. Instalado em 05/10/1833.
 Por decreto provincial nº 4, de 04/07/1861, é criado o distrito de Itaúna e anexado ao município de Barra de São Mateus.
 Elevado à condição de cidade com a denominação de Conceição da Barra, por decreto estadual nº 28, de 19-09-1891. A emancipação acontece no contexto da novíssima constituição republicana de 1891.
 Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, o município é constituído de 2 distritos: Conceição da Barra e Itaúnas.
 Em divisão administrativa referente ao ano de 1933, permanece a mesma divisão, 2 distritos: Conceição da Barra e Itaúnas.  Continua assim nas divisões territoriais de 31/12/ 1936, 31/121937 e 1944/48.
 Pela lei estadual nº 265, de 22-10-1949, é criado o distrito de Taquaras com território desmembrado de distrito sede do município de Conceição da Barra, subordinado ao mesmo município.
 Em divisão territorial datada de 01/07/1950, o município é constituído de 3 distritos: Conceição da Barra, Itaúnas e Taquaras. Assim permanecendo em divisão territorial datada de 01/07/1960.
 Pela lei estadual nº 1931, de 07/01/1964, é criado o distrito de Vinhático e anexado ao município de Conceição da Barra.
 Em divisão territorial datada de 10/01/1979, o município é constituído de 4 distritos: Conceição da Barra, Itaúnas, Taquaras e Vinhático.
 Pela lei estadual nº 3383, de 27/11/1980, o distrito de Taquaras passou a denominar-se Pedro Canário.
 Porém, em divisão territorial datada de 31/07/1983, o município é constituído de 4 distritos: Conceição da Barra, Itaúna, Taquaras e Vinhático.
 Pela lei estadual nº 3623, de 23/12/1983, desmembra do município de Conceição da Barra, o distrito de Pedro Canário. Elevado à categoria de município.
 Pela lei estadual nº 4075, de 11/05/1988, é criado o distrito de Braço do Rio e anexado ao município de Conceição da Barra.
 Em divisão territorial datada de 01/06/1993, o município é constituído de 3 distritos: Conceição da Barra, Braço do Rio e Itaúnas. Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2009.
A Comarca municipal foi criada em 10 de junho de 1892, que mais tarde foi suprimida em face do disposto na Lei Estadual n.º 438 de 25 de setembro de 1900 e restabelecida pela Lei Estadual n.º 463 de 30 de janeiro de 1951.
Feito esse registro histórico administrativo de formação do território barrense, desenvolveremos agora a nossa narrativa na base de uma comparação histórica entre a modernização da Barra de São Mateus com a da Vila de São Mateus, buscando entender a rivalidade entre os dois municípios que anima muitas das fantasias dos dois lados do rio.
Constatamos que na primeira, na Barra de São Mateus, de fato tivemos um desenvolvimento mais contido e bem mais tardio. Seus imensos potenciais mantiveram-se retraídos e reprimidos durante período considerável.
Como temos evidenciado ao longo de nossa argumentação sobre a poderosa influência da geografia na história de Conceição da Barra, destacando sobremaneira a sua localização litorânea na costa do oceano atlântico, essa circunstância, em tese, lhe daria melhores e maiores condições e possibilidades de desenvolvimento.
Não foi o que verificamos. De fato, sob um ponto de vista estritamente estratégico econômico e, acrescentaríamos, militar, a posição geográfica que culminou com a instalação do seu porto (ainda que rudimentar até a década de 1870, quando se inicia a construção do cais) não foram, todavia, suficientes para concretizar aquela supremacia em relação a Vila de São Mateus que havíamos aludido.
Todos os historiadores e os estudiosos da história do Norte do Espírito Santo, consultados nesse estudo, têm chamado a atenção para o fato de que, a despeito dessa privilegiada localização geográfica, foi somente em 1831 que se formou a sua primeira Paróquia, a de Nossa Senhora da Conceição (que hoje é a padroeira do município). Um exemplo apenas dos efeitos de sua tardia autonomia política e administrativa.
E que apenas dois anos mais tarde, em 1833, a paróquia foi elevada à categoria de Vila, recebendo a denominação de Villa da Barra de São Matheus.
Novamente a inevitável comparação, a sua histórica emancipação política em relação a São Mateus, que já se tornara Vila desde o ano de 1764, mas que só ocorrerá em 1891. São Mateus alcançará a sua autonomia político-administrativa no ano de 1848.
O que São Mateus possuía em termos de superioridade face a Conceição da Barra? São Mateus foi fundado em 1544, com nome de povoado do Kiri Kerê e rebatizado em 1566 com o nome de são Mateus.
Atualmente, a área de Conceição da Barra corresponde a 1.188 km², enquanto a de São Mateus a 2 338,727 km².
Ainda assim não se pode falar em superioridade territorial porque só recentemente, com as inúmeras divisões que o município de Conceição da Barra sofreu é que o seu território foi reduzido.
No passado, suas terras eram mais extensas. As potencialidades territoriais são as mesmas. Logo, se não é a geografia que explica a defasagem de desenvolvimento de conceição da Barra em comparação com São Mateus, onde está a explicação?
Levantamos a hipótese de que a poderosa vantagem geográfica de Conceição da Barra foi suprimida pela poderosa máquina política da oligarquia mateense.
Tais fatores não serão aprofundados aqui por razões óbvias, mas devemos destacar o fato de que a elite política e econômica de São Mateus, não apenas no período de formação do município, mas durante todo o século XX e até hoje, manteve presença viva e ativa junto as demais elites e instancias de poder do Espírito Santo[35].
Ao contrário, a representação política de Conceição da Barra nas instâncias decisórias e legislativas do ES foi, desde a sua emancipação e durante todo o período republicano do século XX, tímida e sem organicidade interna, isto é, não resultou de um plano elaborado e definido pelas elites locais. Tal realidade não mudou nos dias de hoje!
Não obstante, na tradição do século XIX do baronato é de se evidenciar o fato de que Conceição da Barra teve dois importantes barões, proprietários de grandes extensões de terras e que, sob uma perspectiva da oligarquia local, possuía poder o suficiente para fazer a representação política da cidade. São Mateus não teve nenhum!
Foram eles: Barão de Timboy e o Barão de Aymorés.
O primeiro, Olindo Gomes dos Santos Paiva, nasceu no município de Conceição da Barra, na fazenda Campo Redondo, às margens do Rio Kiri Kerê na provável data de 1830. Não podemos confirmar por falta de registros fidedignos, mas consta que teria falecido no dia 19 de agosto de 1883 em consequência dos ferimentos causados em um acidente de trem. Foi fazendeiro e coronel da Guarda Nacional.
Projetou a até então Vila de Nossa Senhora da Conceição da Barra como grande produtora de café, inserindo-se na seleta aristocracia da época. Escolheu Itaúnas para se estabelecer e lá construiu um dos mais elegantes palacetes.
Em uma de suas incontáveis viagens ao Rio de Janeiro, solicitou ao imperador Dom Pedro I a construção de uma linha telegráfica para São Mateus e Barra de São Mateus. Foi atendido, sob a condição de oferecer, de suas propriedades, madeira de lei para confecção dos postes.
Recebeu o título de barão que foi conferido por decreto imperial em 16 de setembro de 1874, referendado por João Alfredo Correia de Oliveira, por serviços prestados às linhas telegráficas do Espírito Santo durante a Guerra do Paraguai
Uma característica desse homem é que ele era um mestiço que fez fortuna no regime escravocrata. Apesar de nunca ter se casado, contrariando os padrões sociais da época, viveu maritalmente com a escrava Constância do Amor Divino, com quem teve vários filhos.
O Barão dos Aymorés Antônio Rodrigues da Cunha, filho do Coronel e Comendador Antônio Rodrigues da Cunha e Dª Rita Maria da Conceição Cunha, nasceu em 1834, em Barra do São Mateus, também um legitimo barrense.
Quando seu pai faleceu (1863) ele já estava em sua própria fazenda na Cachoeira do Cravo, com sua esposa Thomázia, filha do Barão de Itapemirim.
Essa fazenda, implantada às margens ao sul do rio São Mateus, terra de índios (aymorés), era modelo de propriedade dentro do conceito escravocrata de organização econômica.
Foi ele, o Barão, quem tomou a primeira iniciativa para represar o rio São Mateus, permitindo assim que engenhos importados da Europa fossem instalados com o objetivo de fabricação de açúcar. 
Colonos portugueses e proprietários brasileiros, quando das proezas administrativas e econômicas do barão, já possuíam fazendas implantadas próximas ao rio São Mateus.
Eram eles: Antônio Gomes, Manoel Barbosa, Gotardo José Esteves e muitos outros.
Antônio Rodrigues da Cunha, Major da Guarda Nacional, recebeu, em março de 1889, o título de Barão de Aymorés, cuja outorga foi obra do Imperador D. Pedro II.
Consta nos registros históricos que ele, o barão, teria falecido em São Mateus, na data de 31 de julho de 1893, logo, já depois da emancipação de Conceição da Barra. 
A história da criação do município de São Mateus tem uma peculiaridade interessante: Foi o Ato Provincial de 3 de abril de 1848 que lhe deu nascimento. Mas, não existe nenhuma memória de efeméride nessa data, simplesmente não se comemora nada nesse dia porque a referência é a festa do padroeiro que acontece no dia 21 de setembro, que coincide com o início da colonização europeia de 1544.
Através dessas descrições esparsas e não alinhavadas sobre São Mateus verificamos que Conceição da Barra, de fato, possuía melhores condições do que o vizinho para alcançar um desenvolvimento de ponta e mais majestoso. Mas, que foi sustada, como temos visto, pela engenhosidade da elite oligárquica mateense, mesmo possuindo dois símbolos de poder do antigo regime.
Quanto a presença do barrense no centro de poder do Espírito Santo, os cargos que ocupavam nesse centro, seja uma vaga de deputado na Assembleia ou como 1°, 2° ou mesmo 3° escalão no executivo estadual, foram alçados muito mais em função de suas peculiaridades pessoais ou ainda, quando se tratava de eleitos, do carisma da personalidade.
Mas, nunca como uma atuação que visasse um plano municipal para aumentar o peso político da cidade naquelas instancias de poder.
Por conta disso, Conceição da Barra, apesar dos enormes potenciais, abdicou de surfar nas ondas de desenvolvimento estadual com a devida interferência e posição ativa. Seja brigando para que os recursos se voltassem para o norte do Espírito Santo, seja lutando para dar visibilidade a sua própria história e cultura.
Podemos afirmar, portanto, com base em nossos estudos da história da cidade, que as lutas fratricidas entre as elites locais, tiveram efeitos extremamente negativos em sua organização para fora do município.
Formulava-se interessantes e bem fundamentados projetos de desenvolvimento da cidade, mas, por conta dessa falta de unidade para projetar alguma liderança no cenário estadual ou mesmo federal, tais projetos não passavam de sonhos de uma noite de verão ou se afogavam nas águas barrentas do Kiri Kerê, ou ainda sumiam de vista em mar aberto no imenso oceano atlântico.
Um único exemplo pode ilustrar o que está sendo relatado acima: o projeto de industrialização da cidade. Sim, Conceição da Barra teve um projeto de industrialização, fomentado do Rio de Janeiro, por família de italianos, mas que foi muito bem recepcionado pelas elites locais e que serviria de referência para todo o norte do Estado: A Companhia Industrial de Madeiras de Barra de São Matheus[36]. 
Consta também que São Mateus e, no Sul, Cachoeiro de Itapemirim, também tiveram seus projetos de industrialização via tratamento da madeira de suas regiões.
Assim, além da boa posição geográfica, dos potenciais de recursos naturais e econômicos, tentativas de implementar projetos industrializantes também fizeram parte do panorama histórico da cidade. Não foram, todavia, suficientes para estruturar um desenvolvimento sustentável e progressivo.
Acreditamos que foi exatamente a falta de uma unidade política da elite local que resultou, desde o final do XIX e ao longo de todo o século XX, numa certa debilidade política do município para fazer diretamente seus pleitos junto ao núcleo central de poder do Estado do Espírito, oferecendo com isso, as bases de um consenso político para sustentar aquele desenvolvimento.
Por essa falta de unidade, a cidade foi preterida em termos de investimentos, não projetava sua presença no âmbito estadual e não tinha como formular a indução de seus próprios desejos de crescimento.
O isolamento cultural e político eram apenas, portanto, um pálido reflexo do isolamento físico e da falta de sintonia com os recursos públicos ou os investimentos privados.
Tal isolamento só foi quebrado a partir da metade da década de 1970, no governo de Humberto de Oliveira Serra, quando da construção da rodovia estadual ES – 421, cujo nome era uma ostensiva homenagem a seu pai, Adolfo Barbosa Serra, um intendente municipal da longínqua década de 1920.
No plano do governo federal, a delegação de autonomia para a criação dos Departamentos estaduais de rodagem tinha por meta a infraestrutura de conexões entre os municípios e as vias federais que interligavam todo o país, com as BRs.
A ES- 421 era exatamente isso: um liame entre a BR 101 e Conceição da Barra. Na verdade, para o barrense, ia muito além de uma simples conexão rodoviária: tratava-se de colocar o município na rota do desenvolvimento estadual e do próprio país.
O estereótipo do barrense como provinciano alheio aos problemas do país, originava-se, certamente, desse isolamento que fazia do município uma quase ilha, com vida própria, mas alienada e excessivamente presa a um passado idílico e povoado de histórias de ex-escravos e de coronéis bondosos prontos a promover a cultura local.
O bucolismo prosaico alimentava a nostalgia de uma época de ouro em que a cultura local edulcorava um mundo de deuses perdidos e esquecidos pelos governos centrais.
Tal iniciativa, ainda assim, não resultou de uma unidade de propósito das elites políticas locais. Pois, o caminho que levava da cidade até a BR federal 101, a sua localização, não possuía consenso.
Esperava-se que a ligação passasse por um outro ponto, que encurtasse a distância para quem desejasse chegar na cidade, com a dinamização das transações econômicas e de serviços.
Essa rota alternativa e que não veio a se concretizar, obedecia muito mais a interesses mateenses pois ficava próximo do município. Tal escolha teria gerado maiores dividendos para as elites de lá.
A atual localização, porém, se deveu muito mais em função dos traçados dos projetos da urbanização das regiões litorâneas do Brasil que foram maquinados em Brasília e na capital do Espírito Santo.
A estrada foi concluída no governo do então governador Elcio Alvarez. Obra administrada pelo DER, órgão criado em torno de 1945, quando o país estava sob a presidência de José Linhares.[37].
Era evidente, portanto, que Conceição da Barra não tinha rigorosamente nenhuma influência na direção do DER. Por isso, apenas o nome da nova rodovia lembrará alguma influência da liderança barrense em sua construção.
Talvez isto explique o porquê de a importante rodovia Adholfo Serra, além de ter sido criada apenas na já recente década de 1970, não ter sido definida a partir da influência da elite local, mas sim pelos poderosos políticos capixabas e de Brasília.
Ao que tudo indica, sequer as lideranças mateenses conseguiram pôr a sua colher na definição da localização desse fundamental empreendimento de infraestrutura.
Por falta de representação seja nas instancias estaduais ou federais de poder, a elite política barrense foi obrigada a aceitar um papel histórico de coadjuvante, posição subalterna e até de vassalagem face as representações políticas do município de São Mateus que atualmente, inclusive, conta com deputados estaduais e federais originários.
A notoriedade individual de alguns membros das elites ou o destaque de alguns chefes políticos populares foram as verdadeiras causas para algum destaque barrense na capital do poder político capixaba, e não a existência de uma unidade política local.
Ou mesmo o desejo por essa unidade. Lutas fratricidas ou disputas dentro das oligarquias selaram esse destino de subalternidade e denegação de grandeza política e cultural que o destino da cidade parecia ter marcado as suas gerações. Uma grandeza de alma que nunca passou de uma potência não-realizada.
Se as elites não buscaram, ao longo da história do município, uma unidade de proposito e organicidade política para atuar junto ao centro de poder do Estado, o povo barrense muito menos.
 A prova está no fato de que nas épocas de eleições para os cargos mais altos (deputado estadual ou mesmo federal), o voto local tende a dispersão, isto é, via de regra, aventureiros de outras localidades, amealham porções de votos em território barrense sem muitos esforços, com pouca ou nenhuma presença entre o povo e com promessas as mais estapafúrdias e sem sentido que se possa ouvir.
Mesmo com essa fraqueza de propostas ou de oratória, o eleitor barrense é atraído a votar em candidatos de fora do reduto e claramente afinados com os interesses de outras praças eleitorais. O barrense não acredita em seu conterrâneo. Se comporta como aventureiro ou desterrado dentro de seu próprio território.
É o caso de diversos deputados estaduais e federais, de domicilio eleitoral em São Mateus, que obtiveram somas consideráveis de votos em Conceição da Barra. É o que constatamos quando examinamos os dados sobre a história das eleições.[38]
Ainda assim, com todas essas circunstâncias que limitavam a capacidade do município de atuar com representação próprio naquelas instancias de poder, ainda assim, tivemos destaques estaduais de lideranças e intelectuais barrenses.
João Bastos Bernardo Vieira foi o primeiro de uma seleta lista de grandes nomes. Nascido no município de Conceição da Barra, em 26/02/1898, em fins do século XIX, foi professor normalista e bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais.
Diretor do Colégio Estadual/ES, diretor da Escola de Belas Artes, Fundador, em 1933, da AEI (associação Espírito-Santense de Imprensa). Funcionario da Secretaria Estadua de Educação.
Ocupou um cargo de alto escalão como consultor Administrativo do ES, fundador da associação dos funcionários públicos, presidente da constituição de justiça da federação desportiva, redator de vários jornais, inclusive em outro estado, presidente da LBA.
Autor do livro Caminhos da Vida. Publicado em 1943 por conta de um prêmio literário que ganhou.
Era o concurso que visava escolher o príncipe dos poetas capixabas, que João Calazans, redator-chefe de A Tribuna Ilustrada, suplemento dominical do jornal A Tribuna, também conhecido como A Tribuna – Suplemento, lançou em 1941 com a assessoria de Eugênio Sette. 
O poeta barrense figurou entre os 3 primeiros colocados e teve o seu livro editado pela José Olympio. O poeta Bastos teve 3.145 votos. Foi também deputado estadual. Veio a falecer em Vitória/ES, a 05/07/1962.
João Bastos se sabia herdeiro de uma elite intelectual impar no universo limitado de grandes figuras das artes e das ciências no solo espírito santense.
A Barra se sobressaiu ao longo da história nesse quesito, talvez só perca para a capital e o município de Cachoeiro do Itapemirim, ao sul, que legou ao estado grandes nomes, na política, nas artes, na literatura, nas ciências, magistratura e no magistério.
Hoje, João Bastos cede o seu nome para uma importante escola pública municipal de Conceição da Barra, a João Bastos, criada em 1980, no governo de Eurico Rezende.
A grandeza de sua figura espera paciente o momento em que a sua biografia possa ser feita e divulgada para que se conheça melhor o legado e os feitos desse extraordinário representante das elites culturais e políticas barrense.
Deixou inédito Cantos da Vida Moça e tem o seu nome registrado na Enciclopédia de Literatura brasileira, de Afranio Coutinho, e ainda presente na ontologia de Elmo Elton.
Para o leitor poder saborear um lindo poema seu, ecolhi esse:
Eu irei
Quando o Sol, Expurgindo o derradeiro poente, abismar-se na sombra, além das cordilheiras, e o rio, quebrando o impulso da corrente, inerte lago, vier deitar-se às ribanceiras...
Quando, do meu destino, as asas agoureiras passarem sobre a verga, em rumo diferente, - eu irei, mas irei, ó negras mensageiras, nem mais entristecido e nem menos contente.
Há de haver, para lá do espaço circunscrito, um porto e, de algum modo, a esteira de uma ponte ideal, entreligando os sonhos em conflito,
Refúgio onde talvez um novo sol desponte e o espírito contemple o azul de outro horizonte, ao longo da amurada extrema do infinito.” João Bastos
Sem dúvida, o maior nome da história cultural de Conceição da Barra é devido ao inigualável folclorista Hermógenes Lima da Fonseca. Nascido no dia 12 de dezembro de 1916. Falecido no ano de 1996.
Tratado com honra, é referência em pesquisa da cultura popular no Espírito Santo, foi pesquisador inventivo e imaginativo da cultura produzida pelo povo capixaba e seus mestres populares.
Sua capacidade extraordinária de resgatar e evidenciar os mestres populares pode sim ser equiparada aos pesquisadores e igualmente geniais estudiosos capixabas Guilherme Santos Neves e Renato Pacheco.
Viver junto ao povo era uma máxima de vida. Provavelmente, o título carinhoso de mestre Armojo resultou dessa familiaridade com as coisas de nosso povo sofrido.[39]
Foi um exímio brincante, cronista e também poeta. Um escritor versátil que transitava com facilidade entre as várias escritas.
Não bastasse toda essa genialidade literária e intelectual, no âmbito social e político Hermógenes também sobressaiu.
Ele foi membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB) foi eleito vereador (pela sigla do Partido Republicano, visto que o PCB não havia voltado à legalidade) de Vitória com a maior votação proporcional da história do município até os dias de hoje, obtendo aproximadamente 10,45% dos votos válidos.
Foi membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, da Comissão Espírito-santense de Folclore, na qual ocupou praticamente todos os cargos de diretoria, Membro do Conselho Regional de Contabilidade, do qual também foi presidente; Como sindicalista participou da organização do Movimento Unificado dos Trabalhadores (MUT) no estado, do qual foi 1º secretário e da Central Geral dos Trabalhadores (CGT).
Atuou como jornalista, deixando a sua marca como colaborador dos jornais “A Gazeta” e “A Tribuna”, assumindo a direção do jornal “Folha Capixaba”.
Hermógenes, não apenas tinha um olhar especial para o folclore de sua terra, como também focalizou as mazelas sociais, o racismo, a desigualdade social, a concentração fundiária, a corrupção, tudo isso, fazia parte de suas conversas e preocupações cotidianas.
E foi o que o levou a se filiar ao PCB, num momento em que o país passava por violenta ditadura militar, no qual os direitos e garantias individuais estavam sob ataque frontal do Estado.
Por essas razões, Hermógenes não seria o promotor de uma unidade de propósito para a representação política da cidade de Conceição da Barra. Longe disso. Ele sabia que tal unidade, além de não existir, caso existisse, seria produzida sob a hegemonia política das elites e não dos trabalhadores. Na verdade, o folclorista nunca desejou essa unidade.
Foi um poderoso crítico dos latifundiários, da exploração de negros e índios, das oligarquias e dos coronéis. Logo, se notabilizou e entrou para a história capixaba como um legitimo e fiel defensor das causas dos oprimidos.
Nesse contexto explicativo, Hermógenes não chega ao poder na capital imbuído de propostas políticas resultantes de um programa formulado a partir de uma unidade política barrense, mas sob a influência intelectual e política de doutrinas sociais emancipatórias, voltadas para a organização e unidade dos trabalhadores.
Nesse sentido, Hermógenes naturalmente teve que expandir os seus horizontes culturais e políticos para fora de Conceição da Barra, na busca de afinidades de ideias e propósitos.
Ele as encontrará no Partido Comunista, a sua grande paixão depois da cultura e do folclore, aliás, essas duas dimensões da existência de Hermógenes estavam conectadas, formavam um único élan que estruturava a sua personalidade e embasavam seus ideais de vida e trabalho.
Hermógenes honrou o patrimônio cultural e a herança de índios e negros do norte do Espírito Santo. Todo barrense tem dívidas impagáveis com esse gigante da cultura nacional!
O próximo a ser citado aqui é o Humberto Serra. Que teve uma atuação importante na administração pública local, se destacando como um administrador de visão. Organizou a prefeitura e atuou como músico.
Nasceu em Conceição da Barra, no dia 23/08/1932. Veio a falecer em 26/07/1996, na cidade de Vitoria. A sua mãe era a dona Esthânia de Oliveira Serra, nascida em 07/01/1890 em Conceição da Barra.  O pai era um ex intendente municipal da década de 1920, o sr° Adholfo Barbosa Serra, nascido em 09/03/1888, natural de São Mateus.
O avô materno era: Bernardino José de Oliveira. Natural de vila de oliveira de Azemar da província do dono do rei de Portugal, em Portugal.
A avó materna era: Rita Cabral de Souza, natural do ES. O avô paterno: Deolindo Barbosa Serra. Avó paterna. Angélica Silvares Serra.
Teve muitos irmãos. Aldina Serra Daher, Maria Zilda Serra de Almeida, Angélica Serra Dias, Alzira de Oliveira Serra, Carlos Gomes de Oliveira Serra, Maria Ignês Serra Silvares, Odete Serra Daher, Myriam de Oliveira Serra, Cybeli de Oliveira Serra, Auristela de Oliveira Serra, Maria Zilma de Oliveira Serra.
Teve três filhas: Maria Gorete de Almeida Serra, Maristela de Almeida Serra, Claudia Maria de Almeida Serra.
Oficial e tabelião vitalício do cartório do 1° oficio – Registro geral de imóveis títulos e documentos, registro das pessoas jurídicas de Conceição da Barra. Músico da Banda Oliveiro Filho – Saxofone tenor
Vereador e presidente da câmara municipal, anos de 1973/77. Presidente da Emespe 1992.
No Governo de Albuino Azeredo, chegou a opinar sobre as demandas do norte, a necessidade de aumentar os aportes de recursos no interior. Não chegou a ser uma voz ativa e não formou nenhum grupo político forte dentro daquela administração.
Serra também não fez carreira eleitoral fora de Conceição da Barra, mas deve ser visto como exemplo de barrense que a partir de qualidades pessoais de gestor e de influências partidárias, conseguiu um espaço dentro do ambiente político das decisões estaduais.
Não teve grande projeção, aliás, não havia como, uma vez que a atuação de lideranças do interior, dentro do centro do poder capixaba, só poderia auferir ganhos concretos caso houvesse ação coletiva organizada com propósitos definidos. Projeto que nunca houve em Conceição da Barra, como temos visto nesse estudo.
Fora isso, era a velha adesão subalterna aos programas políticos formulados por outras elites de outras regiões, notadamente da região sul ou sob a tutela de São Mateus ou Linhares.
Uma outra figura política barrense, de interesse especial para o nosso estudo é o ex-prefeito Mateus Vasconcelos (vulgo Mateusão). Nascido em Conceição da Barra (24/10/1953), foi prefeito do município de Conceição da Barra e duas vezes de Pedro Canário. Tentou também se eleger prefeito por São Mateus, mas foi derrotado. Foi 6 vezes vereador. Exerceu o cargo de deputado estadual.
De um ponto de vista estritamente de liderança eleitoral, Mateusão pode ser taxado de campeão incontestável. É o que podemos chamar de um político bom de voto.
Não obstante, Mateusão é uma das figuras mais controversas do universo do norte do Espírito Santo. Era chefe político com um poder carismático espantoso. Mas, atuava na forma da formação de uma vasta clientela eleitoral.
Durante os seus mandatos, foi objeto de inúmeras denúncias de corrupção, desvio de recursos públicos, recebimento indevido de diárias da ALES e uso da máquina estatal em proveito próprio. Sobreviveu politicamente a todas denúncias[40].
A dimensão gigantesca de seu carisma funcionou como fator de desarticulação de uma unidade política interna. O conflito oligárquico com outros membros da elite local, o deixava praticamente como uma liderança solitária. Os que dele se aproximavam exerciam funções apenas de colaboradores sem poder de interferir ou sugestionar questões, rumos ou decisões políticas.
Mateusão, com o seu perfil político autoritário, cultivou a personalidade em ambiente do mandonismo, solo de fato do elemento estruturador de seu carisma político.
Não era, portanto, um elemento aglutinador, mas montava redes de poder e influência, mantendo os seus asseclas sob forte pressão de sua personalidade centralizadora nos âmbitos decisórios e de poder.
Por essa razão, não podemos falar em algo como mateusismo político do tipo que houve em São Mateus com Amocim Leite[41]. Muito embora, Mateusão tenha de fato conseguido legar ao seu filho, Mateusinho, boa parte de seu carisma. Hoje, ele pretende emplacar a sua filha, Claudete Mateus, num cargo de deputada estadual
Ainda assim, essas duas figuras, Mateusão e Amocim, apresentam inúmeras semelhanças de tipos políticos que merecem estudos à parte.
O Dr° Jorge Alex da Silva que atualmente ocupa um cargo de 2° escalão na administração do prefeito Francisco Vervloet, foi Secretário de Estado para Assuntos do Meio Ambiente, no governo de Vitor Buaiz/PT/PV/97/98.
Jorge Alex não é o que se pode chamar de prata da casa, ou um nativo. Nascido em Minas, Caratinga, Alex participou ativamente, nas últimas décadas, dos governos municipais e é um dos pilares das formulações das administrações de Jorge Donnatti e do atual Prefeito.
Desempenhou papel relevante nos eventos históricos que culminaram na derrocada do prefeito Dr° Nélio Ribeiro, culminando com o seu impedimento. É bom lembrar que tanto esse prefeito quanto o Dr° Alex eram membros do Partido dos Trabalhadores.  
Apesar de sua militância de esquerda no PT, tem sido uma peça de apoio do PSDB municipal. Sua afinidade eletiva com a cidade de Conceição da Barra o projeta para dentro do campo daqueles gestores que buscaram estabelecer conexões entre o município e o centro do poder estadual, sem muitos resultados concretos para o crescimento econômico da cidade.
As dificuldades desse grupo político de implementar poderosas políticas sociais de geração de emprego e renda é notória quando comparamos os dados do IBGE sobre a mão-de-obra economicamente ativa da cidade.
Já mencionamos esses dados nesse estudo, mas chamamos a atenção aqui para o fato de que as elites políticas barrense, apesar dos enormes potenciais de recursos naturais do local, não foram capazes de efetivar um programa de autonomia e independência econômica da região.
Pelo contrário. Ao longo da sua história republicana, Conceição da Barra viu o seu imenso território ser retaliado e dividido por outras elites que souberam o momento certo de atuar para obter dividendos e criarem os seus redutos eleitorais.
Atualmente, podemos citar o deputado estadual José Eustáquio de Freitas e o deputado federal Dr° Jorge Silva, ambos de São Mateus, que construíram boa parte de seus redutos aqui em Conceição da Barra e hoje buscam a reeleição.  
Retornando aos barrenses ilustres que conseguiram expandir a sua presença e de sua obra para fora do território local, destacamos a figura, de valor inestimável para a história cultural da cidade, que foi Maria Bernadette Cunha de Lyra, ou apenas Bernadette Lyra, nascida no dia 21 de outubro de 1938 e neta do também ilustre e provavelmente um dos mais destacados artistas e intelectuais barrense, Manoel Duarte da Cunha[42].
 É licenciada em letras pela Universidade Federal do Espírito Santo, doutora pela Universidade de São Paulo e pós-doutora pela Université René Descarte, Sorbonne, França. Considerada pela crítica o maior nome das letras femininas capixabas.  Tradutora e escritora. 
No ano em que o Departamento Estadual de Cultura – DEC se extinguia e era criada a Secretaria Estadual de Cultura e Esportes, em 22 de janeiro de 1996, essa nova pasta foi assumida pela escritora e professora barrense.
Apesar de sempre manter, como Maciel de Aguiar, intactos os seus laços de afetos com a cultura local, a sua atuação nas formulações das políticas culturais no centro do poder estadual não guardava nenhum vínculo com as aspirações políticas das elites políticas barrense.
Muito menos houve qualquer menção de sua parte de poder participar de alguma unidade política que pudesse representar os interesses da cidade na capital do Espírito Santo.
Sua biografia e sua produção intelectual a fixam num campo dos grandes artistas e intelectuais da cultura nacional com gosto pela emancipação do gênero humano e um toque de feminismo.
Nada de provincianismo ou localismo há em sua produção, ainda que as raízes estejam lá como marca de sua personalidade
Por essa razão, Lyra deve ser vista como uma intelectual e artista que, como Hermógenes, priorizava as suas vocações universalistas, abertas para o mundo, mantendo as raízes locais apenas como inspiração e nostalgia do passado de infância e formação familiar e educacional. 
Outro dos nomes ilustres produzidos pela cultura local barrense é Sebastião Maciel de Aguiar, um poeta, jornalista, cronista e pesquisador de longa estrada e projeção nacional.
Maciel nasceu em Conceição da Barra, em 11 de fevereiro de 1952. Aos oito anos, mudou-se com os pais, Odete Maciel Aguiar e Walter Aguiar, para a vizinha São Mateus, onde passou a infância, realizou os primeiros estudos, foi líder estudantil.
Maciel assumiu a secretaria de cultura e esportes no lugar de sua conterrânea, Bernadete Lyra. Isso aconteceu na gestão do governador José Inácio Ferreira. Foi demitido em 2001 por conta da crise envolvendo o nome do governador nos escândalos de corrupção[43].
O próprio Maciel foi investigado pelo Ministério Público por improbidade administrativa, mas se viu inocentado alguns anos depois.
É verdade que ainda muito garoto, saiu de Conceição da Barra para morar em São Mateus. Mas, ele próprio, sempre fez questão de destacar os seus vínculos afetivos e sua memória histórica e literária ao município de Conceição da Barra.
Boa parte de sua produção literária e a sua atuação enquanto secretário estadual de cultura está vinculada a sua natalidade e as figuras que compõem o cenário e a simbologia barrense.
Foi um combatente pela preservação e educação do patrimônio cultural do Espírito Santo, particularmente dos municípios de São Mateus e Conceição da Barra.
Sem dúvida, o resgate e a preservação do patrimônio imaterial de Conceição da Barra devem muito a esse grande intelectual.
Poderíamos aumentar essa lista de grandes nomes na cultura barrense. Mas, fugiríamos bastante de nosso propósito aqui.
Evidenciamos essas figuras apenas com o objetivo de esclarecer que, apesar das guerras fratricidas entre as oligarquias e as dificuldades históricas para criar uma unidade política que pudesse fortalecer uma representação de Conceição da Barra nos âmbitos estadual e federal de poder, ainda assim, a enorme diversidade da produção cultural de artistas e intelectuais foram fatores agregadores na construção de uma imagem positiva do barrense nas letras e cultura capixaba.
Se a cultura e as artes tem sido um forte fator de referência para o barrense, o que dizer da sua posição geográfica?
Com todos os senões e fatores de atraso do desenvolvimento da cidade, que mencionamos acima, sobretudo a falta de uma unidade, a geografia tem perseguido a história de Conceição da Barra na forma de um amuleto da sorte.
A prova está no fato de que por volta da primeira metade da década de 1800( hoje podemos precisar essa data entre anos 35 e 36), a Tesouraria da Fazenda ou Tesouraria Provincial (após 1875, chamar-se-á Tesouro Provincial do Espírito Santo) decidiu por Barra de São Mateus quando resolveu, em função da forte movimentação econômica da época, instalar um órgão arrecadador das Rendas Provinciais.
Não foi outro o fator que determinou essa escolha: devido a sua localização na costa Atlântica, que servia de ponto de ancoragem para as embarcações que transitavam na região.
Sem dúvida, foi uma escolha estratégica. A administração provincial optou por instalar a Recebedoria de Rendas Provinciais (também chamada de Mesa Recebedora) na área do porto da Barra de São Mateus e não na cidade de São Mateus, como logicamente se deveria esperar que fosse.
Tratou-se de uma Agência de Rendas (ou Agência Arrecadadora). Existem diferenças importantes entre as duas: Enquanto as primeiras tinham uma estrutura mais complexa e eram instaladas em locais estratégicos do ponto de vista arrecadador, ou seja, nas regiões onde havia maior volume de produção e transações comerciais, principalmente nos pontos de trânsito marítimo; a outra, mesmo tendo as mesmas funções das ‘recebedorias’, ou seja, a arrecadação dos tributos e taxas que incidiam sobre a região, apresentava uma estrutura menos complexa. Evidentemente que as duas recebiam forte ingerências políticas.
Independente disso, porém, a Barra de São Mateus se viu prestigiada e não pôde deixar de acolher com sabedoria essa magnifica oportunidade de ver aumentar as possibilidades de seu próprio desenvolvimento.
Da Barra de São Mateus, por dentro nas vias do rio Kiri-Kerê, partiam embarcações a vela ou a vapor que faziam a ligação com a Vila de São Mateus.
Tais embarcações possuíam as características de poder franquear a Barra, ou seja, elas deveriam poder ultrapassá-la. O desenvolvimento da região de São Mateus, facilitado pelo rio, em parte navegável, é acentuado a partir de então.
Todavia, quando voltamos ao século XIX em busca de um marco para a evolução social e econômica da cidade, é na emancipação, e não na economia, que localizamos a tão almejada autonomia. Nesse marco, o município de Conceição da Barra poderá assumir as responsabilidades inerentes a tomadas de decisões e definições de rumos amparados na capacidade de sua própria elite.
No século XIX, tem-se como registros orais que sob a proteção da proprietária de escravos, Dona Rita Maria Conceição Gomes da Cunha, os chefes locais se reuniam e deliberavam providencias administrativas e legais.
Foram formas incipientes de organização do poder político local que possuem registros históricos, mas que ainda não foram devidamente pesquisados pelos historiadores.
Em resumo, o ano de 1831 é muito importante para a história porque é o marco de sua elevação à condição de Vila.
Uma mudança de status que trará efeitos positivos ao desenvolvimento e modernização da cidade. Sob o nome de Barra de São Mateus e subjugada ao município de São Mateus ingressou na vida política.
Em 1833, ao que tudo indica houve as primeiras eleições para a escolha de vereadores, sendo que dos eleitos foi escolhido o mais votado para exercer o cargo de presidente da Câmara.
Era o Presidente que tinha a responsabilidade de administrar o município. O primeiro foi um padre, Manuel dos Santos Pereira.
Houveram outros que, na condição de Presidente da Câmara, governaram a Vila, foram eles: Ricardo Pinto Liberato; Antônio Mendes de Oliveira; Bernardino José de Oliveira.
Apesar de ter recebido a sua emancipação no dia 6 de outubro de 1891, alçando a condição de cidade, foi administrada por intendentes até 1922, isto é, não havia eleições nessas primeiras décadas de emancipação do município.
Apuramos que houveram os seguintes intendentes: José Pinheiro da Silva; Benardino José de Oliveira; José Ambrósio Benso; Benevides Lima Barbosa; Hermínio Poyares; Manuel Antônio de Oliveira; Bernardino de Oliveira Filho; Benevides de Lima Júnior e Adolfo Serra.
Foi marcada para o ano de 1922 as eleições para prefeito da cidade de Conceição da Barra. Foi Astrogildo Carneiro Setúbal o primeiro prefeito eleito do município. Governou até o ano de 1927.
Aqui interrompemos esse estudo sobre a evolução política. Continuar significaria nos afastar do objetivo central desse livro que é a história do SINDISBARRA.
O leitor que desejar conhecer mais e melhor a história da formação e organização da cidade de Conceição da Barra, terá que aguardar as publicações que estamos organizando. Por hora, cumpre apenas destacar que essa explanação obedece apenas a um propósito de contextualização sobre a origem da cidade, destacando a Fundação e a sua Emancipação.



[1] “Este mapa encontra-se no Descripção de toda a costa da Provinsia de santa Cruz a que vulgarmente chamão Brasil. 1642, cuja autoria é de João Teixeira Albernaz, o Velho. Ele é acompanhado de mais dois mapas do Espírito Santo. A obra está na Biblioteca da Ajuda, em Lisboa, Portugal. Junto com o mapa, há a seguinte descrição: Do rio Doçe até a Ponta de Agasuýpe. que está na Altura dos Abrolhos. he Terra despouoada e sem proueito. Só tem algum Pao brasil. a Costa uem correndo ao Norte 28 legoas em todas ellas naõ temos Porto, nem lugar de surgidouro. tudo Costa braua mostraçe o princípio do Canal dos Abrolhos e Ilhas de Santa Barbora entre ellas em oCaziaõ de neçeçidade. Podem surgir Nauios de toda a sorte”. http://spiritosancto.org/documentos/mapa-da-costa-do-brasil-entre-a-ponta-do-rio-doce-e-a-ponta-de-aguasuipe-1642/

[2] A Batalha do Cricaré é evento marcante, um divisor de águas na nossa colonização. Ele exigiu que os portugueses considerassem de modo mais ameaçador o poderio e a resistência indígena aos seus planos. Foi a primeira de uma série de batalhas entre portugueses e índios brasileiros da região da Capitania do Espírito Santo. Ficou conhecida como Guerra dos Aimorés. Ocorreu na confluência dos rios São Mateus e Mariricu, nas proximidades do então povoado do Cricaré, atualmente município de São Mateus. O combate foi travado no ano de 1557 e tinha por objetivo livrar Vasco Fernandes Coutinho, donatário da Capitania do Espírito Santo, e seus homens, do risco de ataque dos nativos. Não há um único livro que trata desse evento. São muitos sites e blogs de internet, mais algumas rápidas menções em artigos, teses acadêmicas ou mesmo livro. Obviamente, a dificuldade encontra-se na falta de fontes mais robustas que possam nos guiar nessa tarefa. Remeto o leitor para o site da wiki: https://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_do_Cricar%C3%A9

[3] O grupo infinity Bio-Energy que controla as duas empresas, pediu falência em meados de 2017. https://www.gazetaonline.com.br/noticias/economia/2017/07/justica-decreta-falencia-do-grupo-infinity-e-libera-venda-de-usinas-1014077966.html

[4] Utilização das terras em Conceição da Barra, ES. Fonte: IBGE/Censo Agropecuário, 1996.
[5]https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/48/agro_1995_1996_n17_es.pdf
[6]Uma visão geral da situação trágica do colapso da pesca do camarão em Conceição da Barra, o leitor encontra nesse importante estudo acadêmicohttps://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:lId13VBGB6UJ:https://pt.scribd.com/document/367369462/A-PESCA-DE-CAMARAO-EM-CONCEICAO-DA-BARRA-ES-pdf+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br
[7] Em 2015, o salário médio mensal era de 2.1 salários mínimos. A proporção de pessoas ocupadas em relação à população total era de 16.9%. Na comparação com os outros municípios do estado, ocupava as posições 21 de 78 e 33 de 78, respectivamente. Já na comparação com cidades do país todo, ficava na posição 1559 de 5570 e 1813 de 5570, respectivamente. Considerando domicílios com rendimentos mensais de até meio salário mínimo por pessoa, tinha 41.3% da população nessas condições, o que o colocava na posição 12 de 78 dentre as cidades do estado e na posição 2573 de 5570 dentre as
cidades do Brasil. https://cidades.ibge.gov.br/brasil/es/conceicao-da-Barra/panorama
[8] Eric Hobsbawm & Terence Ranger (orgs.). A invenção das tradições. – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.
[9] São questões levantadas com o propósito de apontar algumas linhas de pesquisas. A história de formação de Conceição da Barra ainda se encontra incipiente. Muita coisa precisa ser aprofundada e checada. Estamos apenas no começo de um longo e complexo trabalho de pesquisa. Um primeiro passo é tentar separar lendas memorialísticas e representações ideológicas dos fatos reais. Só o trabalho em fontes arquivísticas possibilitará esses esclarecimentos. (SBF)
[10] Nesse texto, encontramos uma extensa discussão sobre a construção da idéia de descobrimento do Brasil, muito útil aos estudantes e especialistas da nossa história: http://uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170601125108.pdf


[11] Sendo que a expressão: “arranhar o litoral feito caranguejos” é do Frei Vicente do Salvador.  Caio Prado Junior. Editora Brasiliense, 1984.
[12] Tupiniquins ou Goytacazes foram os índios que lutaram contra os portugueses na Batalha do Kire Kere. (SBF)
[13] O historiador João Euripedes Franklin Leal fez um importantíssimo levantamento dessas fontes, em diversas instituições de pesquisas no Brasil e em Portugal, identificando referencias fundamentais para a história do Espírito. http://www.ijsn.es.gov.br/ConteudoDigital/20120815_ij00733_seriedocumentoscapixabas_v.4.pdf
[14] Nardoto parece insistir com uma narrativa que desloca o protagonismo histórico de indígenas, escravos e ex-escravos africanos no território do norte da capitania, para poder substituí-lo pelos feitos dos novos imigrantes (italianos, sobretudo). A memória italiana, aos seus olhos interpretativos, foi denegada por um ativismo afrodescendente de historiadores capixabas. Por isso, os feitos italianos permaneceram invisíveis nesses historiadores, o seu protagonismo, mitigado. Talvez por isso, Nardoto introduz sorrateiramente em suas fontes de pesquisas, relatos orais de seu próprio tronco genético. Nas famílias de seus antepassados, ele encontrou a justificativa moral para revelar o suposto comportamento social hedônico e desregrado dos negros do sapê. Eliezer Nardoto. História, Geografia e Economia de São Mateus. Editora do autor. 2016
[15] Estamos preparando um estudo especificamente sobre a obra desse grande historiador mateense para tentarmos um balanço mais especifico de seus livros, visamos a correta compreensão da contribuição de cada grupo social e cultural na história do norte do Espírito Santo. SBF
[16] Essa versão sobre as origens da cidade não é considerada cientifica pela historiografia, mas sobrevive em relatos de cordéis, poemas e contos, e.t.c.
[17] O historiador Mateense, já mencionado aqui, durante algum tempo sustentou essa versão. Mas, ele mesmo, no seu mais recente e completo livro sobre a história de São Mateus retificou o erro e ratificou a tese de que os índios que lutaram contra os portugueses na batalha do Kiri Kerê foram os Tupiniquins. Que, porém, também não corresponde aos fatos. (Nardoto, NARDOTO, Eliezer Ortolani. São Mateus-Brasil. São Mateus : EDAL, Ano III, nº.3, 2000
[18] Já nos limites estabelecidos na carta-régia de 1534, encontramos  os índios do grupo linguístico Tupi-Guarani: os tupiniquim, tupinambá e os temiminó, habitando a faixa costeira e porções dos vales do rio Cricaré, rio Doce e Itaúnas; e os do grupo linguístico Jê, conhecidos, genericamente, como botocudos, habitando áreas ao longo do vale do rio Doce. AYRES, Joaquim. Índios do Brasil. Editora brasiliense, RJ. 1976.
[19] Ver as correspondências trocadas entre Vasco Fernandes Coutinho e o Governador geral Mem de Sá. Sobre Vasco Fernandes Coutinho e os pedidos desesperado por ajudar militar, ver.Rocha, Levy. De Vasco Coutinho aos Contemporaneos.1977, pgs 29-33.
[20] O Brasil teve vários fortes construídos ao longo de sua história. Era de arquitetura sofisticada, tendo como função a proteção do território. O primeiro forte a ser construído foi o de São João de Bertioga, localizado na ponta sul de Bertioga, ao lado do canal e próximo à balsa. Erguido em 1532, é considerado patrimônio histórico e cultural do Brasil desde 1940. Localiza-se no estado de SP. https://casavogue.globo.com/Arquitetura/noticia/2015/12/10-fortes-militares-historicos-viram-ponto-turistico-no-brasil.html
[21] Os dados que temos sobre a população da capitania do ES se referem a um período posterior. No “final do século XVI a capitania produzia com seus seis engenhos, cerca de seis mil toneladas de açúcar. Quanto à população indígena, já incorporada à civilização, havia cerca de onze mil, distribuídos principalmente nos aldeamentos de São João (Carapina), Nossa Senhora da Assunção (Reritiba), Nossa Senhora da Conceição (Serra) e Reis Magos (Nova Almeida). Viviam ainda no Espírito Santo cerca de 180 colonos”. Não temos referencias para o norte. http://www.estacaocapixaba.com.br/2016/01/economia-colonial-capixaba.html
[22] Obras Escolhidas do Padre José de Anchieta.
[23] História do Brasil, Frei Vicente do Salvador. Editora Senado Federal, 2010. PG 46.
[24] Sobre a contestação da presença de Padre José de Anchieta no norte capixaba, remeto o leitor para o livro do historiador e professor Gabriel Bittencourt, Padre José de Anchieta, editora Contexto, 2005.
[25] O professor Gabriel Bittencourt fez parte do departamento de história da UFES e se notabilizou mediante as suas originais pesquisas sobre a história do Espírito Santo, suas preocupações iniciais voltadas para a formação econômica e a industrialização assumiram depois dimensões mais amplas, de natureza biográfica, da vida privada e dos vultos e figuras históricas emblemáticos. E a questão que envolve a história do Vigário tem sido para ele particularmente instigante!
[26] História do Espírito Santo. Vitória: Fundo editorial do Espírito Santo, p 54. Além de Stela de Novaes e dos já citados, existem outros autores que sustentam a vinda do padre ao norte: Freire, Felisbelo. História Territorial do Brasil. Secretaria da cultura, turismo, Instituto Histórico e Geográfico da Bahia.
[27]  Nara Saletto, em seu livro Donatário, Colonos, índios e jesuítas, trata do início da colonização do Espírito Santo, analisa a biografia de alguns ícones da história colonial capixaba. Trata inicialmente, da biografia de Vasco Fernandes Coutinho, juntamente com a incipiente população que o acompanhou, definidos pela historiografia como cerca de 60 homens, dentre os quais degredados. contrariando a visão da historiografia nacional, Saletto defini as características de Vasco Fernandes: nobre português, de carreira militar, tendo se destacado nela por sua bravura, ocupou posições de grande destaque na coroa portuguesa que lhe renderam alguma riqueza. E como homem do século XVI, Vasco Coutinho se sentiu seduzido pela atmosfera mítica do paraíso tropical e se lançou ao “empreendimento colonizador” em “terras capixabas”, com seus próprios recursos. https://ape.es.gov.br/Media/ape/PDF/Livros/Donatarios_colonos_indios_jesuitas2.pdf
[28] Após a derrota, Mem de Sá organizou uma expedição que exterminou os nativos da região. O episódio ficou conhecido como a primeira importante vitória dos portugueses contra os gentílicos. https://even3storage.blob.core.windows.net/anais/60086.pdf
[29] A melancolia dos nativos do norte do Espírito Santo é objeto de uma pesquisa que estamos desenvolvendo, mas que se encontra ainda em estágio bastante preliminar(SBF).
[30] Balthazar de Sá, sobrinho de Mem de Sá, controla a armada e retorna ao reduto indígena na entrada da Barra. Matas índios e aprisiona uma outra parte. Rocha, Levy. Op. Cit. 1977. Pg33.
[31] Os trabalhos, livros, contos, do jornalista radicado em São Mateus, Maciel de Aguiar, se utiliza dessa riquíssima fonte de pesquisa para a construção da versão dos ex-escravos sobre o que teria acontecido com os seus antepassados. Destaco especialmente o livro: Os Últimos Zumbis. A saga dos negros do vale do Cricaré durante a escravidão. Memorial Editora e Livraria São Gonçalo. Sitio Histórico Porto de São Mateus.2001
[32] Documentos existem, os relatórios de Maximiliano, as cartas de Mem de Sá, as de Vasco Fernandes Coutinho e.t.c. Logo, não se trata de falta, mas de acesso a documentação. Ouro Vermelho: A Conquista dos Índios Brasileiros. 1978. EDUSP.
[33]Conceição da Barra (Vila da Barra de São Mateus) pertenceu à comarca de Porto Seguro por 59 anos (de 1764 a 1823). “Não foi possível determinar a data em que a capitania do Espírito Santo deixou de ser subalterna do governo da Bahia. Desde a instalação da Corte no Brasil, os governadores da terra capixaba passaram a corresponder-se diretamente com o Rio de Janeiro. Parece que não houve ato específico da Administração dispondo sobre a matéria. Providências isoladas, aconselhadas pelas circunstâncias, foram sendo editadas no devido tempo. Tem-se, por exemplo, a carta régia de vinte e nove de maio de 1809, dirigida ao governador Manoel Vieira de Albuquerque Tovar, em que o príncipe regente houve por bem extinguir a Provedoria da Real Fazenda, sediada na capitania, e ordenar fosse estabelecida uma Junta da Administração e Arrecadação da Real Fazenda, na vila de Vitória, subordinada imediatamente ao Real Erário. A dezesseis de agosto de 1810, aquele governador, em ofício ao conde de Aguiar, lamentava “ser ainda a Capitania do Espírito Santo subalterna à da Bahia” (Gov. ES, I). Justificando a medida pleiteada, isto é, que fosse eliminada a subalternidade de seu governo ao da Bahia, transferindo-se a dependência “para o do Rio de Janeiro, Albuquerque Tovar referia-se à dificuldade de comunicações com a Bahia, dada a inexistência de estradas entre Vitória e a cidade do Salvador (idem, ibidem). Logo a seguir, D. João baixou o decreto de três de setembro daquele milésimo de 1810, ordenando “que o governo da Capitania do Espírito Santo pelo que pertence à parte militar fique independente da Bahia”. http://www.morrodomoreno.com.br/materias/o-espirito-santo-liberta-se-do-governo-da-bahia.html

[35] O texto deste livro baseia-se em excertos e notas de uma pesquisa em curso sobre a História de Conceição da Barra. Livro esse que guarda um capítulo especial onde tratamos exatamente dessa comparação histórica entre as potencialidades de desenvolvimento de Conceição Barra relativamente a de São Mateus, tentando responder a razão de a primeira ter ocupado, ao longo dos séculos, uma posição subalterna e não ter conseguido converter seus imensos potenciais e ricos recursos naturais e humanos em supremacia social e econômica.
[36] Estamos preparando alguns volumes de história sobre a formação do município, onde teremos então a oportunidade desse importante experimento industrializante que foi o CIMBARRA.
[37] Aqui no Espirito, o ato de criação do órgão foi devido ao então interventor Aristides Alexandre Campos. O seu primeiro diretor foi o professor Dido Fontes de Faria Britto O DER será fator central do desenvolvimento da infraestrutura viária do ES. Era controlado politicamente pelas elites interioranas. Veja que o seu primeiro diretor, o Dido, que apesar de ter origem no RJ, estava na cota política de deputados do sul do ES, dado a imensa influência que Cachoeiro de Itapemirim sempre exercer no comando do Estado. https://der.es.gov.br/missao-visao-e-valores
[39] Guilherme Santos Neves e Renato Pacheco são dois grandes nomes do pensamento social e histórico capixaba. Professores acadêmicos, escritores, e.t.c. http://www.estacaocapixaba.com.br/2016/01/guilherme-santos-neves-biobibliografia.html

[40] Mateusão desviou dinheiro em três convênios feitos entre a prefeitura de Conceição da Barra e o Governo Federal em 1994, época em que ainda era prefeito da cidade. Os convênios previam desde o desassoreamento da foz do Rio São Mateus à aquisição de equipamentos hospitalares. O prejuízo aos cofres públicos seria de mais de R$ 1.7 milhões. Jornal A Gazeta.
[41] Amocim Leite (São Mateus, 1931 — Vitória de 25 de maio de 2011), foi um político brasileiro, eleito vereador por dois mandatos e prefeito de São Mateus por três. É reconhecido como uma das figuras mais emblemáticas e folclóricas da política mateense, sendo o primeiro afro-brasileiro a eleger-se prefeito no munício. Seus mandatos caracterizaram-se por obras de infraestrutura voltadas em especial para os cidadãos de baixa renda. Diabético, morreu em decorrência de complicações relativa à doença. Seu corpo foi sepultado no Cemitério de São Mateus. Um ano antes da sua morte foi lançado um livro com sua biografia, pelo autor Eliezer Nardoto. http://www2.cmv.es.gov.br/uploads/filemanager/backup/Volume-2-Digital.pdf

[42] O seu avô, Manoel Duarte, possui uma história extraordinária, já registrada por muitos pesquisadores e poetas barrenses. Num outro estudo que estamos preparando sobre a história artística e literária de Conceição da Barra, trataremos mais pormenorizadamente dessa ilustre figura (SBF).
[43] https://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u21902.shtml