CIMBARRA:
VETOR DE UMA MEMÓRIA INDUSTRIALIZANTE NO NORTE CAPIXABA (1925-1978)
SERGIO BAPTISTA DA FONSECA
HISTORIADOR/SEMCULT
sbaptistadafonseca@yahoo.com.br
SALOMÃO DA SILVA PINTO
ESCRITOR/SEMCULT
poetasalomao@hotmail.com
Resumo
O
Presente artigo tem por objetivo apresentar os excertos de uma pesquisa em
curso sobre a história da Companhia Industrial de Madeira de Barra de São
Matheus, em Conceição da Barra. Visa demonstrar o seu valor no contexto de
memória do desenvolvimento da cidade. Ela foi o ator central na estruturação
econômica da cidade enquanto ente federativo autônomo, separada do município de
São Mateus. Um projeto e um sonho de futuro. Conhecer a sua história e preservar
o seu acervo documental é compromisso com a memória de todos os cidadãos.
Palavras-chave: CIMBARRA; ACERVO
DOCUMENTAL; MEMÓRIA DE CONCEIÇÃO DA BARRA.
Os
excertos que ora apresentamos é extraído de uma pesquisa em curso sobre a
história da CIMBARRA: Companhia Industrial de Madeira de Barra de São Matheus.
Pesquisa essa intrinsicamente vinculada ao processo de preservação de acervos
documentais relativos à memória histórica da cidade de Conceição da Barra.
Desse modo, nos baseamos em três vetores fundamentais, a saber:
Elaboração de uma política de preservação dos
acervos documentais e de memória do
municipio;
Memória Oral: através da identificação de atores
que foram operário(a)s nas atividades da Companhia, montamos uma série de
entrevistas nas quais a memória fluí espontaneamente, permitindo o registro
vivo dos acontecimentos de época.
Levantamento dos acervos documentais e
bibliográficos. Através da localização desses registros documentais poderemos
proceder ao trabalho de preservação e disponibilização para o acesso do público
leigo e de pesquisadores.
Sobre os acervos da
CIMBARRA, destacamos que há diversos materiais “espalhados” pelo município, no
estado e até fora, em instituições públicas e privadas, no arquivo nacional,
muitos em locais incertos, sob os riscos de deterioração, a espera de exame,
identificação, catalogação e preservação.
Esses registros
documentais são testemunhos de época, tanto os orais como os escritos, eles
revelam a memória de uma história que o tempo parece ter soterrado.
O município nasce
enquanto ente federativo pelo Decreto n.º 28, de 19 de setembro de 1892,
desmembrando-se de São Mateus. Mas o caráter de subsistência de sua economia
não oferece fundamentos sólidos para a sua plena emancipação.
A Companhia, com o seu
projeto industrializante, na década de 20 do século XX, é a promessa de
sustentabilidade para a autonomia desse novo municipio.
Impressionante nesses
acervos é o material fotográfico cujos registros nos revelam os painéis
imagéticos de uma época, os modos de vida de um povo e os impactos sociais e
nos costumes que a indústria e os aparatos tecnológicos causaram.
Com base nas lentes do fotógrafo Benevides Lima Júnior, a imagem impactante da operação dos empreendimentos da CIMBARRA impressiona os pesquisadores. Evidenciamos as fotos dos navios e a estrada de ferro com a Locomotiva simbolizando o progresso[1]. As duas imagens, fartamente documentadas, juntamente com as entrevistas e os registros escritos em fontes documentais, nos possibilitam adentrar o portal do tempo histórico, atravessar as décadas de acontecimentos para espiar a construção de um complexo sistema de produção industrial que tem inicio com as derrubadas de madeiras nas fazendas ao redor, o beneficiamento e tratamento na serraria sob as mãos de inúmeros operários e, finalmente, o transporte férreo até o estaleiro Caneco, com seu guindaste enorme e no fundo os navios prontos para serem carregados. O Rio Itaúnas funcionando como escoadouro das madeiras in natura e a embocadora do Cricaré no oceano atlantico o ponto de partida para exportação dos produtos industrializados.
BREVE HISTÓRICO DO MUNICIPIO DE
CONCEIÇÃO DA BARRA[2]
Em 11 de agosto de 1831,
Barra de São Mateus foi instituída paróquia sob a invocação de Nossa Senhora da
Conceição, cuja imagem era venerada numa rústica capelinha erguida nos
primórdios da colonização. Foi elevada à categoria de vila por resolução do
conselho do governo, no dia 02 de abril de 1833. A solenidade da instalação da
cidade deu-se em 06 de outubro do mesmo ano, ficando esse dia estabelecido por
lei, para se comemorar o município que recebeu a denominação de Conceição da
Barra, sendo o primeiro nome uma homenagem à Padroeira e, o segundo, lembrando
o primeiro nome que os portugueses deram à povoação. No dia 10 de junho de
1892, foi criada a comarca do município que teve como Juiz de Direito o Dr.
Carlos Gonçalves, suprimida em 1900 e restabelecida em 1951. Segundo o poema de
Padre José de Anchieta, onde descreve a Batalha do Cricaré, foi nas águas desse
rio, que Fernão de Sá, ferido, perdeu a vida, quando lutava contra os gentis[3].
A área do município foi
regulamentada em 1885, pela Lei Municipal n.º13, em 07 de janeiro do mesmo ano.
No ano de 1911, o município era composto de dois distritos: o da sede e o de
Itaúnas. Um terceiro distrito apareceu na divisão administrativa de 1933, o de
Barreado, que perdurou até 1936.
Assim permanecendo em
divisões territoriais de 31/12/1936 e 31/12/1937. No site da prefeitura de
Conceição da Barra[4],
podemos acessar as seguintes informações quanto ao mapa politico-administrativo
do municipio: Conforme a legislação estadual nº 265, de 22/10/1949, o distrito de Taquaras surge como território
desvinculado da sede, já totalmente pertencente ao município de Conceição da
Barra.
Na divisão territorial
datada de 01/07/1950, o município é constituído de 3 distritos: Conceição da
Barra, Itaúnas e Taquaras. Assim permanecendo em divisão territorial datada de
01/07/1960. Pela lei estadual nº 1931, de 07/01/1964, é criado o distrito de
Vinhático e anexado ao município de Conceição da Barra. Em divisão territorial
datada de 01/01/1979, o município é constituído de quatro distritos: Sede,
Itaúnas, Taquaras e Vinhático.
Pela lei estadual nº
3383, de 27/11/1980, o distrito de Taquaras passou a denominar-se Pedro
Canário. Em divisão territorial datada de 31-07-1983, o município é constituído
de quatro distritos: Conceição da Barra, Itaúnas, Pedro Canário e Vinhático.
Pela lei estadual nº
3623, de 23/12/1983, desmembra do município de Conceição da Barra, o distrito
de Pedro Canário. Elevado à categoria de município. Em divisão territorial
datada de 18-08-1988, o município é constituído de dois distritos: Conceição da
Barra e Itaúnas.
Pela lei estadual nº
4075, de 11/05/1988, é criado o distrito de Braço do Rio e anexado ao município
de Conceição da Barra. Em divisão territorial datada de 01-06-1995, o município
é constituído de três distritos: Conceição da Barra, Braço do Rio e Itaúnas. Em
2011, o Executivo propôs e a Câmara Municipal aprovou a criação do Distrito do
Cricaré, integrado pelas comunidades ribeirinhas de ambas as margens do Rio
Cricaré.
De acordo com os
registros da Secretaria de Turismo, através de trabalhos não publicados, o
município foi elevado a Vila em 1831, Vila de Barra de São Mateus, que passou a
tomar parte na vida política em 1833. Realizaram-se eleições para escolha de
vereadores e entre os eleitos foi escolhido para presidente da câmara o
vereador Padre Manoel dos Santos Pereira, a quem cabia a responsabilidade de
administrar o município e era denominado intendente.
O município cedeu parte
do seu território para a formação dos municípios de: Mucurici em 1953,
Pinheiros em 1964, Pedro Canário em 1983. Em 1922, houve eleições para o
primeiro prefeito,
sendo eleito Astrogildo
Carneiro Setúbal, apresentado pelo influente político Bernadino de Oliveira
Filho. Setúbal governou até 1927, ao ser eleito Manuel Antônio de Oliveira,
este não cumpriu todo seu mandato, devido à revolução de 1930. De 1930 a 1947,
não houve eleições.
Nesse período, os
Governadores eram nomeados pelo presidente da república e os prefeitos pelo
governador e recebiam o nome de interventores. Com o fim do Estado Novo, em 02
de dezembro de 1947, houve eleição para prefeito e vereadores, sendo, eleito
prefeito Bento Daher que administrou até 31 de janeiro 1951. Outros prefeitos:
Ítalo Benso -1951/1955; Bento Daher -1955/1959;
Edward Abreu do
Nascimento - 1959/1963; Mário Vello Silvares - 1963/1967 (foi eleito, mas nem
chegou a ser empossado por seu estado de saúde não permitir, sendo substituído
por Edgard Cabral da Silva que renunciou antes de terminar seu mandato,
assumindo o presidente da câmara Gastão Kock da Cunha); José Luiz da Costa -
1967/1971; Bento Daher - 1971/1973; Gentil Lopes da Cunha – 1973/1977; Humberto
de Oliveira Serra - 1977/1983; Aluizio Feu Smiderle - 1983 administrou por
apenas 45 dias, falecendo em consequência de um acidente de trânsito, assumindo
a gestão, seu vice, Oribes Storch, que administrou até 1988; Humberto de
Oliveira Serra 1989/1992, renunciou antes de terminar seu mandato, assumindo
João Alves dos Santos, o vice; Mateus Vasconcelos - 1993/1996; Nélio Ribeiro
Nogueira - 1997/2000, foi afastado pela câmara 3 meses antes de terminar seu
mandato e, com a renúncia do vice prefeito Sebastião Farias que iria disputar
eleição, assumiu o
presidente da câmara Edmundo Thomaz Soares Norberto; Francisco Carlos Donato
Júnior (2001/2004) e Manuel Pereira da Fonseca, também conhecido como ―Manoel
Pé de Boi‖ (2005/2008). Em outubro de 2008, houve eleição para prefeito, tendo
disputado as eleições o atual prefeito Manuel Pereira da Fonseca, o ex-prefeito
Francisco Carlos Donato Júnior e o empresário Jorge Donati. Foi eleito o
empresário Jorge Donati, conhecido como ―Jorginho, com uma diferença de 800
votos para o prefeito anterior, tendo como vice-prefeita a Sra. Adélia Augusta
de Matos Marchiori, nome conhecido no meio educacional por ter sido Secretária
de Educação, por (três) mandatos
consecutivos de 1989 a 2001. Atualmente, o chefe do executivo municipal é o
doutor Francisco Bernhard Vervloet.
CIMBARRA: UM ARROJADO SONHO DE
PROGRESSO
Do ponto de vista do
contexto histórico de elaboração e criação da CIMBARRA, sem dúvida 1930 é o
marco. A revolução é considerada divisor de águas na história do Espírito
Santo: Ainda que a transformação de um ambiente agrário/rural para um
industrial/urbano só ocorrerá por volta do final da década de 1960, e talvez
por isso mesmo, o complexo industrial da Barra de São Matheus desperta todo um
interesse especial de pesquisa.
A atividade agrícola era
predominante. Conceição da Barra manteve a mandioca como seu principal produto.
Sua economia, essencialmente de subsistência, tinha como produtos adicionais, o
milho e o feijão, que, por serem cultivados em pequenas quantidades, não
possibilitavam excedentes para a comercialização.
A extração da madeira de
lei, como o jequitibá, o jacarandá e a peroba-amarela, foi uma importante fonte
de renda até o final da década de 70, o que determinou a exaustão de sua
floresta. A pesca ainda é uma importante atividade no Município, assim como a
lavoura, a pecuária em pequena escala e o turismo, potencialmente em escala
relevante.
A CIMBARRA atravessa
esse marco histórico. Fundada em 1925 por: Bernardino Chaves (portugues) e
Humberto Donato. A direção estava nas mãos de seu Raulino Alfredo Costa. A
fundação se dá, portanto, antes da revolução de 1930, dentro do contexto
agrário/rural e na dinâmica hegemônica do café. A sua vocação é já inteiramente
industrializante, urbana e modernizante. Desvinculada do mundo do café, é
direcionada pelos seus visionários fundadores, para uma modernização
incrivelmente inovadora.
O registro civil da
firma ocorreu na cidade do Rio de Janeiro. Cidade para o qual se destinará os
seus produtos manufaturados. A confirmação da existência e o acesso ao exame da
documentação relativa a vida civil da
CIMBARRA é etapa de pesquisa a ser desenvolvida ao longo dos meses seguintes[5].
O nome da firma era
conhecida como serraria do Pai João, nome do bairro onde ficava localizado o
espaço das instalações dos maquinários das operações.
Alem das fronteiras do
município, porém, o nome era: CIMBARRA. Esse nome representa a totalidade do suntuoso projeto: Uma
perspectiva visionária, muito além dos limites de seu tempo. Dado inclusive o
fato de que a localização geográfica era o norte do Espírito Santo que, em
1925, era praticamente inabitado. O sucesso era altamente improvável.
Para se ter uma idéia do
arrojo do projeto, destacamos aqui todos os componentes que compreendiam a
CIMBARRA:
(1)
Fabricação de navios: Os marceneiros cortavam na
serraria as madeiras para a fabricação ou reforma denavios. Próximo ao
pontilhão, onde atualmente existe um estaleiro naval, havia apenas uma
carreira, onde as as peças de madeira emparelhadas eram trazidas via Locomotiva
e ali mesmo eram montadas. Um navio, em especial, entrou para a história de
Conceição da Barra. O Itaúnas, construído em torno do ano de 1941. O navio São
Mateus foi reforma aqui. Nas entrevistas orais, outros nomes de navios que
passaram por Conceição da Barra foram citados: Progresso, Luiz Soares, Cacique,
Norma, Richarlis[6].
(2)
Serraria: um moderno pátio de instalações
mecanicas, com enorme capacidade de processamento e beneficiamento de madeira,
desenvolvida eficiência na reposição de peças feitas na própria base do
operacional do complexo industrial. A madeira era beneficiada, com mais
máquinas como desempenadeira, desengrosso, serras taqueiras, esquadrejadeira,
furadeira, plaina de 3 faces para fazer piso e forro, entalhadeiras de corrente
para fazer assoalhos e tacos.
(3)
Fazendas: A empresa recebeu vários lotes de
terras devolutas. Numa única tacada chegou a obter 10.000 ha de terra. Que iam
do litoral até as divisas com os estados de Minas e da Bahia. A colonização da
região se dividia entre 25 a 30 há de lotes. Foi a partir dessas concessões
estatais para o grupo que a CIMBARRA promoveu, em tempo record, a ocupação e
colonização do norte do Espírito Santo. Segundo os dados que tivemos acesso até
o momento, duas povoações e três municípios nasceram como obra e conseqüência
do CIMBARRA. São eles: a) Vinhático e Tres de Agosto (povoações); b) Pinheiro,
Mucurici e Montanha (município); Municipios que pertenceram a Conceição a
Barra, mas que posteriormente foram emancipados;
(4)
Armazém; Gêneros alimenticios. Tecidos, e.t.c.
Eram comercializados nesse armazem;
(5)
Hospital. Onde o Dr° Mário Vello Silvares atuou,
atendendo funcionários e comunidade.
Temos
agora que mencionar o senhor Arthur João Donato, um ator fundamental nessa
nossa história, suas iniciativas são fundamentais para a compreensão do sentido
de continuidade do projeto da CIMBARRA.
Artur
João Donato nasceu no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em 16 de agosto
de 1922, filho de Humberto Donato, de ascendência italiana, e de Hermínia Durão
Donato, de origem portuguesa.
Em
1945, formou-se pela Faculdade Nacional de Direito da antiga Universidade do Brasil,
iniciando a vida profissional como solicitador em um escritório de advocacia.
Em 1948 concluiu doutorado em direito público e constituiu banca de advocacia.
Em
1945, visando a ampliar a participação no mercado carioca, o grupo adquiriu o
controle acionário de uma empresa restauradora de navios fundada em 1886, o
Estaleiro Caneco, instalada no bairro portuário do Caju. A compra representou o
ingresso do grupo na construção naval e, ao mesmo tempo, a obtenção de um ponto
estratégico de escoamento da madeira transportada do Espírito Santo para o
porto do Rio.
Em
1958 estava em curso o Plano de Metas, estabelecido pelo presidente Juscelino
Kubitschek, do qual fazia parte o Grupo Executivo da Indústria da Construção
Naval (Geicon), que tinha por objetivo estudar projetos de financiamento para a
ampliação da capacidade de produção dos estaleiros brasileiros e de dois
estrangeiros que então se instalaram no Brasil. O Geicon contemplou seis —
Ishikawajima, Verolme, Caneco, Mauá, Só e Emaq — com financiamentos que os
habilitavam a construir navios de médio e grande porte. Além da instalação do
Geicon, outra medida de grande importância para o desenvolvimento da indústria
naval foi a instituição do Fundo de Marinha Mercante (FMM).
Ainda
em 1958, Donato assumiu a direção das Indústrias Reunidas Caneco S.A.. —
Estaleiro Caneco e das demais empresas da família (Companhia Industrial de
Madeiras Barra de São Mateus e Navegação Artur Donato Ltda.). No ano seguinte,
o projeto do Estaleiro Caneco foi aprovado no Geicon, habilitando a empresa a
construir embarcações com mais de cinco mil toneladas de porte bruto (TPB). Em
abril de 1960, Donato passou a responder pela presidência do estaleiro. Dentro
desse processo de ampliação da indústria naval, o Estaleiro Caneco recebeu em
1960 a primeira encomenda de uma embarcação de 3.040 TPB, cuja entrega
definitiva ocorreria apenas em 1966, dadas as dificuldades tecnológicas e
gerenciais enfrentadas pela empresa, que foram de modo geral comuns às demais
empresas do setor no início do programa. Com isso, a CIMBARRA ganhou um reforço
de uma mente poderosa, dinâmica e capaz de gerenciamento absurda.
Voltando aos tipos de
madeiras encontradas na região: Jacarandá, Peroba, Ipê, Sucupira. Haviam outras
madeiras de lei: Cedro, Angico, Paraju, Guarabu, Protumuju, Imbuíba, Juirona,
óleo, Cacestas, Pau D`Arco, Angelins, e.t.c. O principal polo produtor era o
povoado de Vinhático. A indústria da madeira se tornou a principal fonte de
renda do municipio. Nessa fase da pesquisa, ainda não conseguimos apurar a
receita total oriunda da extração, do beneficiamento e da exportação desse
produto para os cofres do prefeitura.
De acordo com o que
apuramos nas entrevistas orais, o empreendimento chegou a contar
aproximadamente com 170 operários. A título de comparação, a serraria
industrial do Estado, localizada em Cachoeiro do Itapemirim e fundado também
antes de 1930, contava aproximadamente com 200 operários. É relevante destacar
que nesse caso, não havia atividades náuticas na região, com navios de grande
porte operado as exportações dos produtos madeireiros como foi o caso da
CIMBARRA no norte capixaba.
Também São Matheus
possuiu uma indústria da madeira de grande porte. Chamava-se de “Societé
Forestieri et industrielle de São Matheus”, datada do inicio do século XX, cujo
volume de recursos bateu às portas dos RS. 1.500:000$000, tratada pela
historiografia capixaba como o maior experimento industrial de madeira do
espírito Santo da primeira metade do século XX[7].
CIMBARRA não ficou
atrás. De acordo com os registros encontrados nas entrevistas do prefeito
Humberto Serra, no auge das atividades da empresa, por volta da década de 1950:
“Em Conceição da Barra, havia duas grandes empresas: a
serraria Conceição da Barra LTDA, que comprova madeira nas mãos de terceiros e
levava-as, serradas, em seus próprios navios, para o Rio de Janeiro, e a
Companhia Industrial de Madeiras de Conceição da Barra, que recebeu uma
concessão do Estado de 10.000ha para explorar madeira e colonizar a região com
lotes de 25 a 30 há, tendo, segundo o informante, implantado as povoações de
três de agosto, Vinhático, Pinheiro, Mucuri e Montanha. Funcionou de 1925 a
1970. Primeiro enviava madeira in natura, e, posteriormente, industrializada,
principalmente em forma de tacos e assoalhos. No auge de suas atividades, na
década de 50, carregava de 10 a 15 navios, destinados ao Rio de Janeiro, por
quinzena, com 300 a 400 m³ de madeira, cada um”[8].
Com base nesse
testemunho, podemos projetar uma atividade industrial capaz de produzir cerca
de 8 mil m³ de madeira por mês.
Na década de 1920, o
governo central desenvolveu uma política de incentivo ao setor industrial de
madeira que consistia em várias concessões, isenções fiscais e tributárias e
participação do poder público nos capitais de financiamentos. Alguns fatores
históricos explicam a escolha e as decisões desse tipo de incentivo.
Desde o inicio do século
XX, com a expansão do capitalismo europeu, que havia boas perspectivas de
exportação da madeira beneficiada, ou seja, espaço e condições para a criação
de projeto industrializante puxado pelo negócio de madeiras. O fato também de
que boa parte do território nacional ainda continuava com a cobertura florestal
intacta, especialmente o território capixaba que contava com 80% de sua
cobertura.
É verdade que a 1°
guerra mundial interrompe esse processo, mas ele se restabelece assim que a
guerra acaba.
Estudiosos capixabas têm
destacado a questão “lindeira” e os conflitos de terra (vide a questão do
contestado) mais a necessidade de povoamento da região como fatores decisivos
para que o governo do estado do Espírito santo, em plena década de 1920,
estimulasse um novo e distoante projeto de desenvolvimento social e economico.
Esse processo se deu no governo de Florentino Avidos (23/05/1924 a 30/06/1928).
Quais incentivos foram
dadas ao setor para a implantação do projeto industrializante? Eram as
denominadas facilidades para a industria madeireira. Destacamos DOIS fatores:
(1)
Fixação por 30 anos, do imposto sobre produção
exportada na base do calculo contemporâneo, como contribuição única.
Registrou-se um adicional de RS. 1$5000;
(2)
Fixação do mesmo prazo, de uma contribuição
sobre cada m³ de madeira extraído em matas do estado na base de 80% do imposto
que seria devido.
O maquinário adquirido
pela CIMBARRA no Rio de Janeiro teria resultado também de um “contrato de
cessão” em que o estado teria incentivado as operações da empresa[9].
No atual estagio de
nossa pesquisa algumas perguntas não foram respondidas. Por exemplo, não
tivemos ainda como comprovar e determinar as origens dos fluxos de capitais que
financiaram o empreendimento: se oriundos de enprestimos estrangeiros; dos
governos federal ou estadual (hipótese mais aceita e considerada
provisoriamente aqui); ou, ainda, capital da família dos Donates, os donos da
firma. Essas lacunas denotam a necessitada de continuarmos a pesquisa.
Uma questão em especial
nos inquietou: era a relativa a energia que alimentava o complexo industrial da
CIMBARRA. Segundo apuramos na entrevista com o maquinista e operador industrial
Sr Edson Calixto, vulgo Ferreirinha, haviam duas fontes de energia da Cimbarra. Uma, que
alimentava as necessidades da Vila ( foram cerca de 23 casas construidas para
abrigar os trabalhadores) e uma outra, a que alimentava o funcionamento do
setor de operação de máquinas da serraria.
Para
a Vila, era o motor estacionário, uma espécie de bomba geradadora cujo combustível
era o óleo diesel[10].
Funcionava entre 18 e 20 hs da noite, ou até as 23hs, quando a serraria fazia
plantão. durante toda a semana. Já para o setor de máquinas, havia o motor a
vapor[11].
Em tempo chuvoso ou por causa da madeira verde, a energia diminuia. A chaminá
que existe até hoje no bairro Pai João, interligava o vapor das máquinas no
tratamento da madeira e tornou-se o monumento histórico vivo na forma de
testemunho de uma época do progresso firmado numa espécie de mini revolução
industrial do norte capixaba.
A
Maria Fumaça funcionava em sistema Decauville, a sua história está ligada ao
fim da Primeira Guerra Mundial em fazendas de café, para transporte dos grãos
do terreiro até o local de armazenamento.
Também
utilizado em fazendas bananeiras, na construção da serra nova do funicular de
Paranapiacaba e posteriormente na vila de Taquarussu, instalações industriais,
indústria madeireira, fábricas de cimento e mineradoras pequenas. Chegaram a
existir máquinas articuladas com rodagem 0-4+4-0T, fabricadas pela própria
Decauville, representando as maiores locomotivas desse sistema no Brasil. Foram
empregadas máquinas e equipamento Francês e Alemão, provenientes de campanhas
militares européias, além de equipamento posteriormente adquirido novo, com a
popularização do meio no país. Existiram linhas Decauville nos Estados do
Paraná, São Paulo, Minas Gerais e aqui no Espírito Santo.
Na
CIMBARRA foi construido uma linha férrea de aproximadamente 3 KM que
transportava a madeira para a serraria e também operários, os chamados
vagonetes do sistema Decauville. Seu Ferrerinha se recorda dessa Locomotiva
quase como um plano épico de existencia, de animadas conversas e brincadeiras
entre os operarios.
De
acordo com a historiografia, esse incentivos a indústria de madeira no norte
capixaba se vncula a um outro projeto, o de uma estrada de ferro unindo
Colatina a São Mateus (Nova Venécia), pronto em 1925 (feito sob o comando de
Moacyr Avidos), foi uma reação do
governo de Florentino Avidos quando notou que o Norte do Estado estava sendo
“engolido por mineiros e baianos”.https://sites.google.com/site/saogabrieldapalhaesbr/09-a-estrada-de-ferro-colatina-sao-mateus.
Assim como a data de seu
registro de nascimento, a data de registro de encerramento das atvidades da
CIMBARRA não são precisas. Segundo alguns relatos, a CIMBARRA teria iniciado as
suas atividades por volta do ano de 1924 e encerrado em 1979 ou iniciado em
1925 e encerrado em 1978. Mais uma questão que precisa de um maior
aprofundamento e acesso a documentação, caso obviamente ela ainda exista.
Nessa nossa primeira
aproximação com a história da CIMBARRA nos deparamos com enorme dificuldades de
pesquisa, começando com o prazo, bastante exiguo e com o dificil acesso aos
arquivos de dominio público e os documentos ainda em mãos de pessoas privadas.
O espólio da vida civil
da CIMBARRA, ao que tudo indica e com base no que apuramos até o momento, ainda
é matéria de disputa judicial ou está submetida aos critérios morais dos
hedeiros da família Donato.
Quanto aos acervos
documentais sob as responsalidade da prefeitura municipal de Conceição da
Barra, indicamos que falta uma politica de incentivos voltada para a
preservação da memória. O arquivo municipal não possui funcionarios treinados
para o manejo adequado da documentação e tampouco há um espaço (um centro de
documentação e memória para a sua guarda e publicidade) de destino para os
“papéis findos”, aqueles que não possuem mais utilidade administrativa para a
instituição.
Concluimos com a citação
de alguns nomes que apuramos e que atuaram nas atividades da CIMBARRA. Pessoas
comuns que a história os manteve invisiveis. Esses nomes surgiram das
entrevistas que fizemos ao longo da pesquisa. Frisamos que essa pesquisa está
apenas no começo, muitas lacunas deverãos ser preenchidas. Esses nomes compõem
uma lista que deverá ser checada no
deenvolver da pesquisa. Tudo isso indica a necessidade de darmos continuidade a
esse importante trabalho de levantamento da história da cidade de Conceição da
Barra.
Benedito de Isaura
|
Manoel Torneiro
|
Francisco
|
Oswaldo Muniz
|
Chico Marreta
|
Henrique Mauss.
|
Elias Miguel
|
Engenheiro Félix Cardoso.
|
Dona Julia
|
Julio Manoel da Silva.
Mariricu 02/02/1912-06/01/1994 Trabalhou como pratico, guinado os navios
Itauna e Serafim Donato.
|
Zé Coco.
|
Emenegudes:
comerciante
|
João Noberto Ataide
|
Manoel Salustiano.
Maquinista
|
Zozó
|
1) REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
2)
CONJUNTURA
ECONOMICA (2/79);
3)
CURRIC. BIOG.; DONATO, A. Depoimento; Estado de S.
Paulo (4/6/95, 29/3, 7 e 16/6/98); ESTALEIRO CANECO.Shipyard’s;
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FIRJAN-CIRJAN. RelatÓRIO (1995);
5)
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(15/8/92, 22/12/02);
6)
JORNAL DO BRASIL(16/9/91, 19/8 e 17/9/92);
7)
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(26/10/83);
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WEISS, J. Origens.
9)
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2009. Programa de Pós-Graduação em história da UFES – PPGHIS
11) Lima
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Rita de Cássia Bóbbio Lima; Wallace Bonicenha. Vitória: Multiplicidade, 2001.
48p. Ilustr.
13) BITTENCOURT, Gabriel Augusto de Mello.
História geral e econômica do Espírito Santo: do engenho colonial ao complexo
fabril-portuário. Vitória, ES: Multiplicidade, 2006.
14) CARVALHO, Enaile Flauzina. Redes Mercantis: A
participação do Espírito Santo nocomplexo econômico colonial (1790 a 1821).
Secretaria de Cultura do Estado do Espírito Santo – SECULT, 2010.
15) OLIVEIRA, José Teixeira de. História do Estado
do Espírito Santo / José Teixeira de Oliveira. 3 ed. - Vitória: Arquivo Público
do Estado do Espírito Santo: Secretaria de Estado da Cultura, 2008.
[1]Lima
Junior, Carlos Benevides – Conceição da Barra; Carlos Benevides Lima Junior;
Rita de Cássia Bóbbio Lima; Wallace Bonicenha. Vitória: Multiplicidade, 2001.
48p. Ilustr. Nesse livro, o acervo fotográfico de Benevides Lima é exposto e
representado com uma rica narrativa dos fatos que compõem a história da cidade
de Conceição da Barra.
[2]Como
se trata de uma pesquisa alusiva a uma empresa simbolo da memória da municipio
de Conceição da Barra, foi o presente trabalho publicado de uma forma resumida
e fatual ( o que é muito natural em se tratando de uma promoção de eventos
turísticos) sob a denominação de História... Entretanto, não podemos deixar de
lutar pela edição integral deste estudo ja que inexiste contribuição regional
especificamente sobre esse tema. Por outro lado, uma das vertentes atuais da
historiografia brasileira privilegia a história local e regional, objetivando
reconstruir um quadro econômico, politico e social tão completo quanto possível
do processo histôrico, traçando paralelos e contrastes interregionais, fato
historiografico não concretizado na região capixaba, cujas obras
insatisfatórias para interpretação da nossa formação, estão concentradas nas
áreas políticas e atrofiados os setores sócio-econômicos, não se questionando o
passado ao nível e profundidade exigidos pela sociedade atual.
[3] Sobre
a Batalha do Cricaré, ver: DALL‘ORTO, Marco Antonio Campo, Rio Cricaré e a História
Cultural do seu povo, Vitória, 2009. Programa de Pós-Graduação em história da
UFES - PPGHIS
[4]http://www.conceicaodabarra.es.gov.br/default.asp
[5]O
processo de negociação de acesso ao exame do material do espólio documental da
CIMBARRA encontra-se em curso com o seu representante legal Sebastião Bussolar.
[6]Quantos
desses navios foram efetivamente construídos em Conceição da Barra, no
estaleiro Caneca, é matéria de averigação na sequencia da pesquisa.
[7]
http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=37200&norma=52904
[8] BORGO, I.; PACHECO, R.; ROSA, L. B. R. de A. Norte do
Espírito Santo: ciclo madeireiro e povoamento. Vitória: EDUFES, 1996. P 41,55.
[9]Um
documento legislativo prova a concessão de terras a CIMBARRA feita pelo governo
do estado.http://www.al.es.gov.br/antigo_portal_ales/images/leis/html/LO0360.html
[10]Um
motor estacionário é um tipo de motor de combustão interna cujo conjunto não se
auto-desloca, mas tem sua rotação empregada na movimentação de eixos e
máquinas. Normalmente não se usa para mover veículos, mas sim para mover máquinas
fixas como gerador, Moinho de algodão, estação de bombeamento, bombas ou
ferramentas de trabalho. Podem ser com ciclo diesel, ciclo de otto, motor dois
tempos ou motor a vapor. também pode ser utilizado em veículos com propósitos
independente como bombear água ou mover basculantes. Os motores estacionários
possuem diversas dimensões e são aplicados para as mais diversas atividades,
incluindo centrais elétricas, motores utilizado nas usinas e fábricas antes do
uso generalizado da energia elétrica, motores utilizados em minas.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Motor_estacion%C3%A1rio
[11]O
motor a vapor, também chamado de máquina a vapor e turbina a vapor, é um tipo
de máquina térmica que explora a pressão do vapor. Todas as máquinas térmicas
funcionam baseadas no princípio de que o calor é uma forma de energia, ou seja,
pode ser utilizado para produzir trabalho, e seu funcionamento obedece às leis
da termodinâmica. Embora a invenção do motor de combustão interna no final do
século XIX parecesse ter tornado obsoleta a máquina a vapor, ela ainda hoje é
muito utilizadaː por exemplo, nos reatores nucleares que servem para produzir
energia elétrica. No caso da máquina a vapor, o fluido de trabalho é o vapor de
água sob alta pressão e a alta temperatura. O funcionamento da turbina a vapor
baseia-se no principio de expansão do vapor, gerando diminuição na temperatura
e energia interna; essa energia interna perdida pela massa de gás reaparece na
forma de energia mecânica, pela força exercida contra um
êmbolo.https://pt.wikipedia.org/wiki/Motor_a_vapor